Resumo: A técnica de fertilização in vitro (FIV) foi idealizada para tratamento de mulheres com fator tubário de infertilidade no final dos anos de 1970. Com o passar do tempo, foi disponibilizada para o tratamento de outros fatores de infertilidade para inúmeros casais em todo o mundo. O desenvolvimento da tecnologia possibilitou o tratamento de uma parte da população de inférteis, entretanto, existem muitas dificuldades para o acesso de casais de baixa renda ao tratamento, em especial nos países em desenvolvimento como o Brasil. Objetivo: Determinar as características socioeconômicas e os fatores de infertilidade de mulheres que foram referenciadas para tratamento de FIV no serviço público da Unidade de Reprodução Humana da Faculdade de Ciências Médicas (FCM)/Unicamp, no período de 01 de abril de 2008 a 31 de outubro de 2009, e determinar a prevalência de infecção por Chlamydia trachomatis (CT) na mesma amostra de mulheres. Métodos: Mulheres referenciadas com propedêutica completa para indicação de FIV foram admitidas sequencialmente e convidadas a participar do estudo. Aquelas que concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), responderam a questionário confeccionado para a pesquisa contendo informações sóciodemográficas e antecedentes ginecobstétricos. Foram coletadas amostras de swab endocervical para pesquisa de infecção por CT de todas as voluntárias. Foram utilizadas técnicas de captura híbrida e Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). O questionário e a coleta de material endocervical foram realizados pela mesma pesquisadora a todas as voluntárias. As variáveis estudadas foram: faixa etária, etnia, escolaridade, tempo de infertilidade, número de gestações e filhos vivos, antecedentes de aborto, gestação ectópica, número de parceiros, doença inflamatória pélvica (DIP), cirurgia pélvica, tabagismo e uso de drogas ilícitas. As mulheres foram distribuídas segundo presença ou não de fator tubário e de infecção por CT e a análise foi descritiva. Resultados: Foram avaliadas 176 mulheres referenciadas para FIV, sendo que a maior parte tinha idade > 30 anos (68.7%), escolaridade > 8 anos (62.5%) e eram brancas (54.5%). O tempo de infertilidade foi ? 5 anos em 70 % das mulheres, 48.3% tinham infertilidade secundária com antecedente de 1 a 3 gestações anteriores, 11.9% de aborto e um terço de DIP, nestas últimas, 81.6% apresentaram fator tubário. O hábito do tabagismo foi relatado por 34.1%. O fator de infertilidade mais frequente foi o tubário em 73.3%, sendo que 51.2% delas haviam realizado laqueadura tubária. A endometriose e o fator masculino representaram 14,2% dos fatores, enquanto o fator ovulatório correspondeu a 3,4% e 4% apresentavam esterilidade sem causa aparente (ESCA). A prevalência de CT foi de 1.1% Conclusões: As mulheres encaminhadas para FIV no nosso serviço possuem idade acima de 30 anos, maior escolaridade e pouco tempo de infertilidade. O fator tubário foi o mais frequente e a infecção por CT teve prevalência muito baixa. Medidas de prevenção primária deverão ser realizadas para evitar o fator tubário, como a orientação ao sexo seguro, evitar cirurgias pélvicas desnecessárias e ponderar a indicação da laqueadura tubária como opção contraceptiva. Não é justificado o rastreamento de CT previamente ao FIV neste serviço. A disponibilização dos LARC (Long-Acting Reversible Contraception) nos serviços públicos de planejamento familiar poderá ajudar a diminuir a opção pela laqueadura tubária Ver menos

Abstract: The technique of in vitro fertilization (IVF) was designed to treat women with tubal factor infertility in the late 1970s . With the passage of time it was available for the treatment of infertility from other factors by many couples around the world. The development of technology has enabled the treatment of a part of the infertile population , however , there are many difficulties to access low-income couples to treatment , especially in developing countries like Brazil . Objective: To determine the characteristics and socioeconomic factors of infertility of women who were referred for IVF treatment in the public service of the Human Reproduction Unit , Faculty of Medical Sciences ( FCM ) / Unicamp , in the period 1 April 2008 to 31 October 2009 , and to determine the prevalence of Chlamydia trachomatis (CT) in the same sample of women . Methods : Women referred with complete workup for indication of IVF were admitted sequentially and invited to participate in the study . Those who agreed and signed the Informed Consent (IC) , answered a questionnaire made for research and applied by the same researcher to all volunteers containing sociodemographic information and gynaeco-obstetrics background. Endocervical swab samples were collected for CT infection research from all volunteers. We used the hybrid capture assay and Polymerase Chain Reaction (PCR) . The variables studied were : age , ethnicity, education , time of infertility, number of pregnancies and live births, history of miscarriage, ectopic pregnancy, number of partners, pelvic inflammatory disease (PID), pelvic surgery, smoking and illicit drug use . The patients were divided according to the presence or absence of tubal factor and infection by CT and the analysis was descriptive. Results: We evaluated 176 women referred for IVF , and most were aged > 30 years (68.7%) , schooling > 8 years (62.5%) and were white (54.5%) . The duration of infertility was ? 5 years in 70% of women , 48.3% had secondary infertility with 1-3 previous pregnancies , 11.9% had a history of miscarriage, a third had PID and 81.6% of these had tubal factor. The habit of smoking was reported by 34.1%. The most common factor infertility was tubal in 73.3% and 51.2% of them had undergone tubal ligation. Endometriosis and male factor accounted for 14.2% of the factors while the ovulatory factor was 3.4% and 4% had unexplained infertility. The prevalence of CT was 1.1 %. Conclusions : The women referred for IVF in our service are older than 30 years, higher education and shortly infertility. The tubal factor was the most frequent and CT infection had very low prevalence. Primary prevention attitudes should be taken to avoid damage tubal as guide to safe sex, avoid unnecessary pelvic surgery and be careful on the indication of tubal ligation as a contraceptive option. The CT treatment is not justified prior to IVF in this service. The provision of LARC (Long-Acting Reversible Contraception) in public family planning services can help reduce the option for tubal ligation Ver menos