A roça e o aço : as experiencias e as resistencias operarias no Brasil Moderno (1954 a 1964)
Stela Cristina de Godoi
DISSERTAÇÃO
Português
T/UNICAMP G547r
[The contryside and the steel: the working class experiences and resistance in modern Brazil (1954 to 1964)]
Campinas, SP : [s.n.], 2007.
197p. : il.
Orientador: Ricardo Luiz Coltro Antunes
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas
Resumo: No Brasil do século XX, ao longo do período de 1954 a 1964, o cenário nacional foi palco de pelo menos três crises - política, social e econômica - marcadas pelo suicídio de Getúlio Vargas em 1954, pela renúncia de Jânio Quadros em 1961 e pelo golpe militar de 1964. No decorrer destes anos,...
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Resumo: No Brasil do século XX, ao longo do período de 1954 a 1964, o cenário nacional foi palco de pelo menos três crises - política, social e econômica - marcadas pelo suicídio de Getúlio Vargas em 1954, pela renúncia de Jânio Quadros em 1961 e pelo golpe militar de 1964. No decorrer destes anos, num processo que se inaugurou em contextos anteriores, é possível observar a formação de uma classe operária no Brasil, em virtude da ampliação do parque industrial nacional. No sudeste brasileiro, sobretudo, na região metropolitana de São Paulo, inúmeras indústrias multinacionais da cadeia produtiva do automóvel se instalaram nas cidades do ABC paulista, atraídas por um mercado consumidor com demanda reprimida, por amplos incentivos alfandegários e creditícios dados pelo governo brasileiro, bem como, por uma volumosa oferta de mão-de-obra nas cidades abastecida pelo êxodo rural. Esse contexto histórico foi terreno fértil à gênese do discurso ideológico nacional desenvolvimentista, segundo o qual, numa perspectiva evolucionista, o Brasil superaria a condição de subdesenvolvimento através da participação do Estado, dos capitais privados nacionais e dos capitais estrangeiros. Ideologicamente, o tripé - ordem, progresso e soberania - daria sustentação ao pacto social que se pretendia construir entre as classes sociais. No processo de urbanização e industrialização, nos moldes fordistas/tayloristas, inseridos no contexto de modernização da nação, os sindicatos operários e os Partidos disputaram os rumos da classe trabalhadora no Brasil, a qual se formou como um novo mosaico étnicolregional, composto, sobretudo, por migrantes nacionais vindos das zonas rurais do país. Por meio da história oral e da memória, este estudo buscou analisar as experiências e as estratégias de resistência de quatorze ex-metalúrgicos, ao longo do processo de re-enraizamento vivenciado com a migração para as cidades de São Paulo e ABC paulista, no interior do mundo do trabalho de 1954 a 1964. A análise das memórias dos sujeitos desta história permitiu perceber que esse processo de ressocialização vivido pelo migrante rural, esteve marcado tanto pela sujeição aos valores dominantes da sociedade de destino, bem como pelas pequenas recusas à modemidade brasileira. Fincando raizes em terra nova, esses migrantes-operários depararam-se com as engrenagens da fábrica fordistaltaylorista instalatla no Brasil, na vivência de um medo difícil de definir e de um tempo que se tomou produto raro. No interior dessas relações sociais marcadas pelo trabalho estranhado/alienado, os depoentes deste estudo, concebidos como sujeitos ativos 'sob as condições objetivas dadas, criaram práticas sociais de resistência às formas de opressão vivenciadas no chão de fábrica, e fora dele. Levando-se em consideração não só o cenário macroestrutural, mas, principalmente, a dinâmica subjetiva e simbólica do trabalho, a análise das memórias de ex-operários, que se empregaram em diferentes indústrias metalúrgicas da cadeia produtiva de automóveis, lançaram luzes sobre as relações conflitivas da vida cotidiana no mundo moderno, evidenciando uma contínua tentativa destes sujeitos de transpor a condição de máquinas de trabalho
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Abstract: In Brazil, during the twentieth century, from 1954 to 1964, the country went through at least three crisis: political, social, and economical. These were marked by Getúlio Vargas' suicide in 1954, by Jânio Quadros' resignation in 1961, and by the military coup in 1964. In the course...
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Abstract: In Brazil, during the twentieth century, from 1954 to 1964, the country went through at least three crisis: political, social, and economical. These were marked by Getúlio Vargas' suicide in 1954, by Jânio Quadros' resignation in 1961, and by the military coup in 1964. In the course ofthese years, in a process that started in previous contexts, it is possible to observe the formation of a working class in Brazil, due to the enlargement of the national industrial park. In the southeast of Brazil, above ali, in the metropolitan region of São Paulo, a countless number of multinacional industries from the automobile productive chain have settled in the ABC Paulista cities, attracted by a consumer market with a repressed demand, by broad custom incentives and credit given by the Brazilian govemment, as well as, by a sizeable labour offer in the cities supplied by the rural exodus . This historical context was a fertile terrain for the genesis of the national-<1evelopmental ideologicaldiscourse, according to which, in an evolutionary perspective, Brazil would overcome the underdeveloped condition through the participation of the state, of the national private capital, and of the foreign capital. Ideologically, the tripod-order, progresso and sovereignty-would give support to the social pact that was intended to be built among the social classes. In the process of urbanization and industrialization, in the FordITaylor pattem, inserted in the modemization context of the nation, the unions and the political parties disputed the course of the working class in Brazil, which was formed as a new ethnical-regional mosaic, made up of, above ali, national migrants coming from the rural areas of the country. Through the oral history" and the memory, this study tried to analyse the experiences and the strategies of resistence of fourteen ex-metalworkers, through the adaption process experienced with the migration to the cities of São Paulo and ABC Paulista, inside the labour world from 1954 to 1964. The analysis of the memories from the subjects of this history allowed me to notice that this resocialization process experienced by the rural migrant, was marked as much by the subjection to the dominant values from the society as by the insignificant refusals to the Brazilian modemity. Establishing roots in the new land, these migrant workers carne across the mechanisms of the Fordffaylor factory installed in Brazil, living with a fear difficult to define, and time which became arare product. In the core of these social relations marked by the strange/alienated work, the witnesses from this study, conceived as active subjects under the oDjective conditions given, created social practices of resistence to the forms of oppression experienced in and out of the factories. T aking into consi~eration, not only the macro-structural scenery, but, mainly, the subjective and symbolic dynamics of work, the analysis of the memories from ex-workers, who worked for different metallurgical industries from the automobile productive chain, throwed lights on the conflicting relations of the everyday life in the modem world, showing a continuous attempt from these subjects to overcome the condition of working machines
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