O espanhol para o brasileiro : uma lingua singularmente estrangeira
Maria Teresa Celada
TESE
Português
(Broch.)
T/UNICAMP C33e
Campinas, SP : [s.n.], 2002.
1v. em 2 : il.
Orientador : Eni Puccinelli Orlandi
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem
Resumo: Este trabalho tenta continuar, de uma perspectiva discursiva, a direção instalada pelas linhas de pesquisa que recentemente começaram a trabalhar na contramão do "efeito de indistinção" a que a língua espanhola e a do brasileiro foram submetidas historicamente, tanto no campo da reflexão...
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Resumo: Este trabalho tenta continuar, de uma perspectiva discursiva, a direção instalada pelas linhas de pesquisa que recentemente começaram a trabalhar na contramão do "efeito de indistinção" a que a língua espanhola e a do brasileiro foram submetidas historicamente, tanto no campo da reflexão quanto na prática de ensino-aprendizado no Brasil. Ao elaborar um relato que possibilita compreender a fundo a relação que o brasileiro estabeleceu com essa língua, consegue determinar como uma discursividade funcionou neste país, em várias instâncias, sob o efeito de um préconstruído
segundo o qual a língua espanhola é uma língua "parecida" com o português e, portanto, "fácil". Esse pré-construído passou, por filosofia espontânea, ao campo dos estudos sobre essa língua, fazendo parte de um gesto que fundou uma
forma de interpretá-Ia, que se perpetuou nesse campo e que acabou funcionando comoum obstáculo epistemológico.Por meio de um instrumentolingüístico- um manual de língua espanhola - produzido sob o regime de efeitos desse gesto, o préconstruído se fortalece na prática pedagógica e, por efeito de um longo e complexo processo, no campo de senso comum se expande numa metonímia que atinge condensação e expressão numa língua que, por funcionar como uma extensão da do brasileiro, será chamada de espontânea: o portunhol. Na década de 90, a assinatura do Tratado do Mercosul e uma série de fatos ligados ao processo de globalização, que se concentra de forma vertiginosa no final do século XX, incidem diretamente sobre a relação do brasileiro com o espanhol e, nas discursividades ligadas a certas práticas, a referida cadeia metonímica fica submetida à equivocidade da história. O brasileiro começa a negar o portunhol e a elaborar o hiato ou intervalo entre o português brasileiro e o espanhol. Este passa a ser uma língua que merece "ser estudada" e, no encontro com seu real, o brasileiro não confirma as promessas de gozo que historicamente ela alentou. De fato, em seu
processo de enunciar nessa língua estrangeira, o sujeito passa a errar, deixando marcas recorrentes e contumazes que, para a análise, funcionarão como fatos de linguagem, como pistas da forma em que sua subjetividade é solicitada.
Partindo de pesquisas realizadas na Área da Análise do Discurso para conhecer a produção dos objetos simbólicos e suas formas de heterogeneidade como parte de uma história de colonização e de formação do país Brasil, será possível determinar traços constitutivos da subjetividade do brasileiro que, de forma geral, são afetados quando este se expõe ao funcionamento material da língua espanhola em processos de aprendizado formal. Em tais processos, esse funcionamento o afeta na contradição constitutiva que sua subjetividade suporta por abrigar a relação de descontinuidade que entre oralidade e escrita se produziu, sobretudo no âmbito escolar e por efeito da referida história. Atinge-o, portanto, nessa relação desigual, e algo estrangeiro aparece aí como a repetição fatídica do que a esse sujeito é familiar: ele reviverá o impasse sofrido na escola com relação à escrita. Dessa forma, terá sido interpretado o aspecto mais forte a respeito da tese inscrita no título deste trabalho, segundo a qual a língua espanhola é singularmente estrangeira para o brasileiro Ver menos
segundo o qual a língua espanhola é uma língua "parecida" com o português e, portanto, "fácil". Esse pré-construído passou, por filosofia espontânea, ao campo dos estudos sobre essa língua, fazendo parte de um gesto que fundou uma
forma de interpretá-Ia, que se perpetuou nesse campo e que acabou funcionando comoum obstáculo epistemológico.Por meio de um instrumentolingüístico- um manual de língua espanhola - produzido sob o regime de efeitos desse gesto, o préconstruído se fortalece na prática pedagógica e, por efeito de um longo e complexo processo, no campo de senso comum se expande numa metonímia que atinge condensação e expressão numa língua que, por funcionar como uma extensão da do brasileiro, será chamada de espontânea: o portunhol. Na década de 90, a assinatura do Tratado do Mercosul e uma série de fatos ligados ao processo de globalização, que se concentra de forma vertiginosa no final do século XX, incidem diretamente sobre a relação do brasileiro com o espanhol e, nas discursividades ligadas a certas práticas, a referida cadeia metonímica fica submetida à equivocidade da história. O brasileiro começa a negar o portunhol e a elaborar o hiato ou intervalo entre o português brasileiro e o espanhol. Este passa a ser uma língua que merece "ser estudada" e, no encontro com seu real, o brasileiro não confirma as promessas de gozo que historicamente ela alentou. De fato, em seu
processo de enunciar nessa língua estrangeira, o sujeito passa a errar, deixando marcas recorrentes e contumazes que, para a análise, funcionarão como fatos de linguagem, como pistas da forma em que sua subjetividade é solicitada.
Partindo de pesquisas realizadas na Área da Análise do Discurso para conhecer a produção dos objetos simbólicos e suas formas de heterogeneidade como parte de uma história de colonização e de formação do país Brasil, será possível determinar traços constitutivos da subjetividade do brasileiro que, de forma geral, são afetados quando este se expõe ao funcionamento material da língua espanhola em processos de aprendizado formal. Em tais processos, esse funcionamento o afeta na contradição constitutiva que sua subjetividade suporta por abrigar a relação de descontinuidade que entre oralidade e escrita se produziu, sobretudo no âmbito escolar e por efeito da referida história. Atinge-o, portanto, nessa relação desigual, e algo estrangeiro aparece aí como a repetição fatídica do que a esse sujeito é familiar: ele reviverá o impasse sofrido na escola com relação à escrita. Dessa forma, terá sido interpretado o aspecto mais forte a respeito da tese inscrita no título deste trabalho, segundo a qual a língua espanhola é singularmente estrangeira para o brasileiro Ver menos
Abstract: Not informed.
Orlandi, Eni de Lourdes Puccinelli, 1942-
Orientador
Grigoletto, Marisa
Avaliador
Zoppi-Fontana, Mónica, 1961-
Avaliador
Gonzalez, Neide Maia
Avaliador
Souza, Pedro de, 1981-
Avaliador
O espanhol para o brasileiro : uma lingua singularmente estrangeira
Maria Teresa Celada
O espanhol para o brasileiro : uma lingua singularmente estrangeira
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Exemplares
Nº de exemplares: 4
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