Resumo: Partindo de entrevistas qualitativas e de uma abordagem etnográfica, a presente dissertação tem como objetivo compreender, através das narrativas de jovens trabalhadores e trabalhadoras em situação de desemprego na cidade de São Paulo-SP, de que maneira suas percepções em mundo do trabalho precário se relacionam, ou não, com a tendência ideológica do neoliberalismo em individualizar problemas estruturais ao capitalismo. Considerando a etnografia feita ao longo de seis meses no Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (CATE), também foi problematizada a virada neoliberal em uma instituição pública do município paulista, que passou a impulsionar recursos intimamente ligados aos valores do empreendedorismo, ao "auto emprego" e ao chamado Microempreendedor Individual (MEI). Não obstante, as entrevistas realizadas com jovens que frequentam o Centro revelaram uma preferência por trabalhos estáveis e/ou auxílios tradicionais, em oposição às alternativas promovidas pela virada neoliberal atualmente em curso, de tal forma que os resultados dessa pesquisa enfatizam a necessidade de se considerar as experiências dos sujeitos como sendo capazes de suscitar distintas consciências sobre suas condições sociais e ambições futuras. Além disso, foi dada especial atenção ao tema do empreendedorismo, chegando à conclusão que, antes de ser uma alternativa plenamente almejada, a possibilidade de empreender surge como último recurso aos trabalhadores diante de um mundo do trabalho sob as ruínas da precarização e, no caso do Brasil, com histórica ausência de auxílios sociais consequentes. Por fim, concluo que a virada neoliberal no CATE e as diferentes maneiras como os trabalhadores mobilizam suas narrativas acerca da exploração do trabalho, empreendedorismo, autonomia e informalidade, nos revelam que a atual face do neoliberalismo, para além de simples ideologia, se comporta enquanto hegemonia, mas uma hegemonia com rachaduras e fendas, que podem ser restauradas ou efetivamente rasgadas diante das múltiplas, ainda que contraditórias, agências daqueles que lutam e se viram, diariamente, para sobreviver Ver menos

Abstract: Relying on qualitative interviews and ethnographic research conducted in the city of São Paulo, this dissertation aims to understand, through the narratives of young unemployed workers, how their perceptions in a precarious world of work are related—or not—to the neoliberal ideological tendency of individualizing structural problems inherent to capitalism. Drawing on six months of ethnographic fieldwork at the Center of Employment and Entrepreneurship Support (CATE), this study also examines the neoliberal shift within a municipal public institution, which has increasingly promoted values and resources tied to entrepreneurship, self-employment, and support mechanisms aimed at so-called individual micro-entrepreneurs (MEIs). The interviews conducted with young workers who frequented the Center reveal a discrepancy between their aspirations for stable employment and the ongoing neoliberal shift. The findings of this research emphasize the need to consider workers’ experiences as capable of shaping varied understandings of their social conditions and future ambitions. Moreover, special attention was given to the theme of entrepreneurship, concluding that, far from being a fully desired alternative, the possibility of entrepreneurship emerges as a last resort for workers struggling in a world of work ravaged by precarization and, in Brazil’s case, with historical absence of substantial social support. Ultimately, this study concludes that the neoliberal shift at CATE and the diverse ways workers articulate their narratives about labor exploitation, entrepreneurship, autonomy, and informality reveal that neoliberalism, beyond being a mere ideology, operates as a hegemony. However, this hegemony is marked by cracks and fissures that may either be repaired or decisively ruptured by the multiple, though often contradictory, agencies of those who struggle daily to survive Ver menos