O menino na língua [recurso eletrônico] : erros de gênero como marcas de subjetivação
Viviane Aparecida Carvalho
TCC
Português
TCC DIGITAL/UNICAMP C253m
Campinas, SP : [s.n.], 2024.
1 recurso online (58 p.) : digital, arquivo PDF.
Orientador: Lauro José Siqueira Baldini
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Estadual de Campinas,
Resumo: Situado na interface entre os estudos da linguagem e a psicanálise, este trabalho investiga a relação entre o complexo de Édipo e os erros de gênero gramatical na fala de crianças do sexo masculino. Segundo a teoria interacionista (Lemos, 2006), a criança é capturada pela lingua(gem) e,...
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Resumo: Situado na interface entre os estudos da linguagem e a psicanálise, este trabalho investiga a relação entre o complexo de Édipo e os erros de gênero gramatical na fala de crianças do sexo masculino. Segundo a teoria interacionista (Lemos, 2006), a criança é capturada pela lingua(gem) e, durante seu trajeto de infans a falante, assume diferentes posições em uma estrutura que é dominada ora pela fala do outro (primeira posição), ora pelo funcionamento da língua (segunda posição) e ora pela relação do sujeito com sua própria fala (terceira posição). Na segunda posição, foco desta pesquisa, a fala da criança é permeada por "erros", isto é, estruturas linguísticas inovadoras, divergentes da fala do adulto, que marcam a subjetivação da criança na/pela língua (Figueira, 2005) e sinalizam um distanciamento da fala do outro/adulto. Para Lacan (1998 [1957]), esse distanciamento implicado na trajetória da criança na/pela língua se deve ao caráter constitutivo dos espaços de equívoco na língua. E em Português Brasileiro (PB), um desses espaços de equívoco é o gênero gramatical, descrito por Lemos (2002b) como uma "zona privilegiada de erros". Quanto a expressões que se referem ao próprio sujeito falante, Figueira (2005) constata que, na fala de crianças do sexo feminino, há um deslizamento unidirecional das marcas de gênero: de um suposto masculino para o feminino (como de "repórter" para "repórta"). Sendo assim, a hipótese deste trabalho é de que, na fala de crianças do sexo masculino, haja um deslizamento também unidirecional das marcas de gênero, porém de sentido contrário: de um suposto feminino para o masculino (como de "banguela" para "banguelo"). O material analisado, atualmente arquivado no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE – IEL/UNICAMP), provém do Projeto de Aquisição da Linguagem Oral e consiste em gravações em áudio de três sujeitos, FE, LU e TI, observados longitudinalmente (1;09 a 2;04, 1;06 a 2;03 e 0;11 a 5;00, respectivamente). Ao todo, foram encontrados no material dez episódios de erros de gênero gramatical, mas nenhum deles incide sobre expressões que se referem ao próprio sujeito falante. Em seis deles, as marcas de gênero deslizam do feminino para o masculino: "É o (tart)aluga." (FE 1;11.27); "Tá pe(r)to esse girafa. Pe(r)to do girafa." (LU 1;09.21); "A fito, mãe." (TI 2;06.27); "No garagem, né, mãe." (TI 3;00.08); "A garagem do caminhão é muito bonito." (TI 3;00.21) e "Peru(a)." (TI 3;05.02). Já nos outros quatro, as marcas de gênero deslizam do masculino para o feminino: "Caminhão com gancha." (TI 2;07.10); "Na frente da moto-rista." (TI 2;08.01); "(R)Osa, olha macaco feia." e "E a mendoim quebrada." (TI 4;03.13). Em suma, os episódios encontrados não sustentam a hipótese do deslizamento unidirecional (talvez justamente por não incidirem sobre expressões que se referem ao sujeito falante, isto é, por não se valerem dessa motivação semântica do sexo para a marcação de gênero). De todo modo, o trabalho indica o caráter produtivo do erro de gênero gramatical, pois sua ocorrência não se restringe a expressões cujo critério de atribuição de gênero gramatical é semântico (Corbett, 1991) – isto é, não se restringe a expressões em que o gênero gramatical está associado ao sexo do referente. (Apoio: CNPq - Processo 123193/2023-0)
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Abstract: At the interface between language studies and psychoanalysis, this work investigates the relation between the Oedipus complex and grammatical gender errors in the speech of male children. According to the interactionist theory (Lemos, 2006), the child is captured by language and, during...
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Abstract: At the interface between language studies and psychoanalysis, this work investigates the relation between the Oedipus complex and grammatical gender errors in the speech of male children. According to the interactionist theory (Lemos, 2006), the child is captured by language and, during their path from infans to speaker, assumes different positions in a structure that is dominated sometimes by the speech of the other (first position), sometimes by the functioning of the language (second position) and sometimes by the subject's relationship with their own speech (third position). In the second position, the focus of this research, the child's speech is permeated by "errors", that is, innovative linguistic structures, divergent from the adult's speech, which mark the child's subjectivation in/through language (Figueira, 2005) and signal a distance from the speech of the other/adult. For Lacan (1998 [1957]), this distance implied in the child's trajectory in/through language is due to the constitutive aspect of equivocation in language. And in Brazilian Portuguese (BP), a space of equivocation is the grammatical genre, described by Lemos (2002b) as a "privileged zone of errors". As for expressions that refer to the speaking subject themselves, Figueira (2005) notes that, in the speech of female children, there is a unidirectional slippage of gender marks: from a supposed masculine to the feminine (as from "repórter" to "repórta"). Thus, the hypothesis of this work is that, in the speech of male children, there is also a unidirectional slippage of gender marks, but in the opposite direction: from a supposed feminine to the masculine (as from "banguela" to "banguelo"). The analyzed material, currently archived at the Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE – IEL/UNICAMP), comes from the Projeto de Aquisição da Linguagem Oral and consists of audio recordings of three subjects, FE, LU and TI, observed longitudinally (1;09 to 2;04, 1;06 to 2;03 and 0;11 to 5;00, respectively). In all, ten episodes of grammatical gender errors were found in the material, but none of them focuses on expressions that refer to the speaking subject himself. In six of them, gender marks slip from feminine to masculine: "É o (tart)aluga." (FE 1;11.27); "Tá pe(r)to esse girafa. Pe(r)to do girafa." (LU 1;09.21); "A fito, mãe." (TI 2;06.27); "No garagem, né, mãe." (TI 3;00.08); "A garagem do caminhão é muito bonito." (TI 3;00.21) e "Peru(a)." (TI 3;05.02). In the other four, the gender marks slip from male to female: "Caminhão com gancha." (TI 2;07.10); "Na frente da moto-rista." (TI 2;08.01); "(R)Osa, olha macaco feia." e "E a mendoim quebrada." (TI 4;03.13). To summarize, the episodes found do not support the hypothesis of unidirectional slippage (perhaps precisely because they do not focus on expressions that refer to the speaking subject, that is, because they do not use the sex of the subject as semantic motivation for gender marking). Regardless, this work indicates the productivity of the grammatical gender error, since its occurrence is not restricted to expressions whose criterion for assigning grammatical gender is semantic (Corbett, 1991) – that is, it is not restricted to expressions in which the grammatical gender is associated with the sex of the referent. (Financial Support: CNPq - Process 123193/2023-0)
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O menino na língua [recurso eletrônico] : erros de gênero como marcas de subjetivação
Viviane Aparecida Carvalho
O menino na língua [recurso eletrônico] : erros de gênero como marcas de subjetivação
Viviane Aparecida Carvalho