Resumo: As mudanças climáticas e os impactos ambientais têm forçado à reflexão mundial do que deve ser feito para reverter, ou pelo menos reduzir, as consequências do aquecimento global. Em dezembro de 2015, durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21) foi firmado o Acordo de Paris entre 195 países, com o compromisso de reduzir a emissão de gases do efeito estufa (GEE). Manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 ºC foi a principal meta estabelecida no evento. Para que os países cumpram com a responsabilidade assumida, são necessárias políticas e medidas que fomentem o desenvolvimento sustentável em diversas esferas de atuação. O sucesso para alcançar os objetivos propostos depende do empenho de todas elas, ou seja, empresas, governantes, população geral e órgãos de fomento a ciência e a educação devem estar engajados. Nesse contexto, discussões e estudos sobre a responsabilidade dos hábitos de consumo e a pegada de carbono individual nas mudanças climáticas são tópicos com potencial a serem mais explorados. Para reverter a situação global, habituou-se estudar tecnologias mais avançadas e eficientes que consomem menos energia ou buscar formas de incentivo ao uso de energias limpas, deixando em segundo plano, por vezes, o efeito das ações e hábitos de consumo dos indivíduos na redução dos impactos ambientais. Práticas como, por exemplo, o uso de veículos a combustão particulares para o deslocamento cotidiano, o hábito de consumo energético residencial, a ingestão de carnes e derivados ou a realização de constantes voos intercontinentais impactam na emissão de GEE e contribuem, em diferentes proporções, para o aquecimento global. Esse trabalho buscou, portanto, a partir da metodologia de análise ambientalmente estendida da Matriz Insumo-Produto (MIP) e uma interpretação do consumo das famílias por setor, entender qual a influência de determinados setores econômicos e padrões de consumo dentro do contexto das mudanças climáticas. A ideia foi identificar pontos de atenção de mudança de hábito de consumo, ou seja, categorias com maior intensidade de emissões de GEE, visando dar luz à possíveis políticas públicas ambientais para garantir a manutenção do aumento da temperatura média global abaixo dos 2 °C. Inicialmente, portanto, a proposta foi entender a crise climática mundial e brasileira através da interpretação dos dados dos últimos relatórios do IPCC e do Observatório do Clima. Com isso em mãos, levantou-se os setores brasileiros com maior responsabilidade nas emissões de gases de efeito estufa e a relação dessas emissões por real gasto da economia por meio da MIP. Assim, com o cálculo dos coeficientes de emissão, entende-se quais setores têm maior influência nos impactos ambientais por unidade monetária e avalia-se aquele que poderia ser mais influenciado com mudanças de atitudes individuais, tendo como base o percentual do gasto das famílias frente à demanda total desse setor. Os resultados mostraram que "Alimentação – carne e laticínios", apesar de não ter o maior valor de intensidade de emissão, é o setor com a principal oportunidade de ganho ambiental por apresentar alta intensidade de emissões por unidade monetária e ter um dos maiores percentuais de participação do consumo das famílias na demanda total. Ou seja, dentro das possíveis ações individuais para mitigar as mudanças climáticas, mudar a forma como nos alimentamos seria a principal delas. Nesse ponto, foi importante adicionar à discussão as complexas camadas da estrutura econômica e social do país, para não cometer a injustiça de atribuir aos indivíduos comuns uma responsabilidade de empresários das agroindústrias e do governo Ver menos

Abstract: Climate change and environmental impacts have forced the world to reflect on what needs to be done to reverse the course of the global warming. On 12 December 2015, during the 21st UN Climate Change Conference (COP 21), the Paris Agreement was adopted by 195 countries, with the goal to reduce the greenhouse gas emission (GHG). Hold the increase in the global average temperature to below 2 °C was the main agreement of the event. So all the countries can reach the goals of the Paris Agreement, actions and policies to address the sustainable development in different fields are needed. To achieve the goals set, all the areas of interest must commit to it, that means, companies, politicians, science and education promotion agencies and the population effectively engaged. Considering this scenario, there is a great potential on discussion and studies on how the household consumption patterns and the carbon footprint affect the climate change. It is more common to find studies on advanced and efficient technologies that consume less energy or enforce policies that encourage people to use clean energy, what often left aside the potential of individual consumption patterns to minimize the environmental impacts. Domestic habits such as the use of private combustion car engines for daily journeys, residential energy consumption, the ingestion of meat and meat products, or frequent intercontinental flights impact GHG emissions and contribute to global warming. This work therefore has sought to understand the influence of specific economic sectors and consumption patterns into the climate change context by using the environmentally extended input-output analysis and the household consumption by sectors. The idea was to identify important consumption habits changes, that is sectors with greater intensity of GHG emissions which could give light to possible public environmental policies to maintain the global temperature increase below 2°C. Hence, the initial proposal was to understand the global and, more specific, the Brazilian climate crisis through the interpretation of the data from the latest IPCC and Observatório do Clima reports. After that, the Brazilian sectors with the greatest rates of GHG emissions were mapped, together with the emissions per real expenditure using the input-output methodology. By calculating the emissions coefficient, it was possible to understand which sectors have the greatest influence on environmental impacts and the ones that could be most influenced by individual consumption changes, after an evaluation of the family consumption percentage in comparison to the total demand of the sector. The results showed the "Food – meat, meat products and dairy" category as the main one to change environmental impact, because of its greater emissions intensity per monetary unit and the highest percentage of household consumption comparing to the total demand. In other words, within the possible individual actions to avoid climate change, changing the way people eat would be the one with the biggest potential. At this point of the discussion, it was important to add the complexity of the Brazilian social economic structure, not to be injustice and direct the accountability of agro-industries entrepreneurs and government to the ordinary individuals Ver menos