Resumo: O transplante hepático (TH) é uma opção terapêutica estabelecida e de sucesso para doença hepática crônica terminal ou aguda, bem como para neoplasias do fígado, com taxas de sobrevida superiores a 70% em 5 anos. O TH é considerado o tratamento padrão-ouro para pacientes com carcinoma hepatocelular (CHC) em estágio inicial não ressecável, oferecendo taxas de sobrevivência de 70% em 5 anos e 50% em 10 anos, além de taxas de recorrência de 10-15% em 5 anos. Apesar do papel vital e excelente desempenho, é um procedimento que exige cuidados pós-operatórios complexos, sendo associado a ocorrência de complicações precoces, como, choque hemorrágico, rejeição aguda, disfunção primária de enxerto, dentre outros, que podem prejudicar a sobrevida do paciente e do enxerto. Todo o procedimento de captação, armazenamento e implante do fígado gera um processo conhecido como Lesão de Isquemia-Reperfusão (LIR). Essa lesão é caracterizada pela falência na microcirculação do órgão decorrente do dano celular induzido por hipóxia, processo exacerbado com o reestabelecimento da oxigenação. A lesão de preservação (LP) é uma forma grave de LIR, que ocorre durante o TH e contribui para as complicações precoces. A definição histológica da LP pode ser considerada como a presença de moderado a intenso infiltrado neutrofílico, definição que varia entre os serviços e pode ser graduada em graus de intensidade de 1 a 4 conforme a referência utilizada neste estudo. Tendo em vista a gravidade da disfunção do enxerto no TH faz-se necessários meios de identificar preditores de sua ocorrência, a fim de intensificar a vigilância pós-operatória, tratamento precoce e até mesmo preparar o paciente e serviço para um novo transplante. Este trabalho visa realizar uma revisão integrativa da literatura sobre a capacidade de identificar preditores do desenvolvimento de disfunção primária do enxerto a partir das biópsias pré e pós reperfusão do enxerto realizadas durante o transplante hepático, além de propor a elaboração de um protocolo assistencial de utilização das biópsias intraoperatórias no serviço de transplante de fígado do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas. Foram selecionados 13 artigos após os critérios de inclusão serem aplicados. A análise dos estudos sobre biópsias hepáticas pré e pós-reperfusão revela uma gama de achados que elucidam a complexa interação entre a histologia do enxerto e os desfechos clínicos dos pacientes submetidos ao transplante hepático. Esses estudos, em conjunto, sublinham a complexidade da avaliação e manejo dos enxertos hepáticos. As biópsias pré e pós-reperfusão fornecem informações críticas que podem orientar a prática clínica e melhorar os desfechos dos pacientes. Os trabalhos apontam para maior incidência de disfunção do enxerto e maior mortalidade nos casos com LIR grave. A integração de análises histológicas, moleculares e clínicas é fundamental para avançar na predição e manejo das complicações pós-transplante, contribuindo para a melhoria contínua dos resultados no transplante hepático Ver menos

Abstract: Liver transplantation (LT) is an established and successful therapeutic option for terminal or acute chronic liver disease, as well as for liver neoplasms, with survival rates exceeding 70% at 5 years. LT is considered the gold standard treatment for patients with unresectable early-stage hepatocellular carcinoma (HCC), offering survival rates of 70% at 5 years and 50% at 10 years, in addition to recurrence rates of 10-15% within 5 years. Despite its vital role and excellent performance, it is a procedure that requires complex postoperative care, being associated with the occurrence of early complications such as hemorrhagic shock, acute rejection, primary graft dysfunction, among others, which can compromise the survival of the patient and the graft. The entire process of liver procurement, storage, and implantation generates a phenomenon known as Ischemia-Reperfusion Injury (IRI). This injury is characterized by microcirculatory failure of the organ resulting from cell damage induced by hypoxia, a process exacerbated by the re-establishment of oxygenation. Preservation injury (PI) is a severe form of IRI that occurs during LT and contributes to early complications. The histological definition of PI can be considered as the presence of moderate to intense neutrophilic infiltration, a definition that varies between services and can be graded in intensity levels from 1 to 4 according to the reference used in this study. Given the severity of graft dysfunction in LT, it is necessary to identify predictors of its occurrence in order to intensify postoperative monitoring, initiate early treatment, and even prepare the patient and the medical team for a new transplant. This work aims to conduct an integrative literature review on the ability to identify predictors of primary graft dysfunction development from pre- and post-reperfusion graft biopsies performed during liver transplantation, in addition to proposing the development of an assistance protocol for the use of intraoperative biopsies in the liver transplant service of the Hospital de Clínicas of the State University of Campinas. Thirteen articles were selected after the inclusion criteria were applied. The analysis of studies on pre- and post-reperfusion liver biopsies reveals a range of findings that elucidate the complex interaction between graft histology and the clinical outcomes of patients undergoing liver transplantation. These studies collectively underscore the complexity of liver graft evaluation and management. Pre- and post-reperfusion biopsies provide critical information that can guide clinical practice and improve patient outcomes. The studies point to a higher incidence of graft dysfunction and increased mortality in cases with severe IRI. The integration of histological, molecular, and clinical analyses is fundamental for advancing the prediction and management of post-transplant complications, contributing to the continuous improvement of liver transplant outcomes Ver menos