Resumo: Este trabalho, sob a perspectiva de um diretor-pedagogo, descreve uma jornada criativa na linguagem teatral fundamentada em três elementos estruturais principais: a relação entre o Teatro de Imagem e o Teatro Visual como organizadora de linguagem, o desenvolvimento de uma dramaturgia espetacular a partir do jogo, e a matéria dos sonhos como universo de investigação. Como disparador do processo criativo, foi explorada a passagem conhecida como "a peste da insônia" em Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, na qual o vilarejo de Macondo é assolado pela doença, privado do sono e mergulhado em um estado de produtividade exacerbada, esquecimento e alucinada lucidez. Ao fim, os sonhos não dormidos retornam como fantasmas que assombram os sonhadores e seus vizinhos. A proposta da criação não era construir a representação literal dessa passagem, mas explorá-la em diálogo com a imagem e as materialidades, propondo abstrações e construções numa escavação de sentidos ulteriores a ela. Com foco na criação colaborativa, somado a reflexões sobre o papel da figura humana como operadora e material ativo na composição, o trabalho se verticalizou a partir do jogo para criar uma dramaturgia espetacular. O exercício e linguagem cênica "Campo de Visão" foi eleito como base de investigação. O processo é apresentado em quatro partes: a primeira expõe os materiais preliminares de criação, detalhando o recorte em que se inserem esses materiais; a segunda explora os aspectos pedagógicos da direção e as primeiras incursões na criação; a terceira parte foca no aprofundamento e no processo de investigação dos materiais de trabalho; e a quarta parte aborda a estruturação composta para a realização do espetáculo, valorizando o aspecto do jogo em sua formulação. O espetáculo resultante dessa jornada, intitulado "ESTAFA ou sobre os sonhos não dormidos", foi produzido pela Companhia Babélica de Teatro. Nele, o jogo é a base da dramaturgia cênica, a relação com a materialidade é fundamental, e uma espécie de improvisação sutil estabelece sua linguagem Ver menos

Abstract: This work, from the perspective of a director-pedagogue, describes a creative journey in theatrical language, grounded in three primary structural elements: the relationship between Image Theater and Visual Theater as organizers of language, the development of a scenic dramaturgy rooted in play, and the subject of dreams as a universe of investigation. As a trigger for the creative process, the passage known as "the plague of insomnia" in Gabriel García Márquez's Cien Años de Soledad was explored, in which the village of Macondo is ravaged by the disease, deprived of sleep and plunged into a state of exacerbated productivity, forgetfulness and hallucinated lucidity. In the end, the undreamed dreams return as ghosts that haunt the dreamers and their neighbors. The objective of the creation was not to build a literal representation of this passage, but rather to explore it through a dialogue with images and materialities, proposing abstractions and constructions in a deeper excavation of its underlying meanings. With a focus on collaborative creation, together with reflections on the role of the human figure as an operator and active material in the composition, the work was verticalized from the game to create a spectacular dramaturgy. The exercise and theatrical language of "Campo de Visão" was chosen as the primary basis for investigation. The process is presented in four parts: the first introduces the preliminary creative materials, detailing the context in which they are situated; the second delves into the pedagogical aspects of direction and the initial phases of creation; the third focuses on the deepening and investigation of the working materials; and the fourth addresses the structured composition leading to the final performance, highlighting the aspect of play in its formulation. The resulting performance, titled "ESTAFA ou sobre os sonhos não dormidos", was produced by Companhia Babélica de Teatro. In it, play forms the foundation of the scenic dramaturgy, the relationship with materiality is fundamental, and a subtle form of improvisation defines its language Ver menos