Resumo: "Das poucas certezas da vida, a morte é a mais segura delas" atesta o adágio popular. A morte, no entanto, tão intrinsecamente vinculada à vida, tem sido por vezes a repelida causa de sofrimento, medo e constrangimento para as pessoas. O escopo desta tese considera a morte como central, mas em um novo lugar: o ciberespaço. Ao realizar um trajeto sobre a morte na cultura ocidental e outro percurso no cenário revolucionário da cibercultura e do ciberespaço provocado pela revolução digital das últimas décadas, esta pesquisa encontra no fenômeno dos túmulos virtuais a região onde questões como morte, luto e educação para a morte podem ser catalogadas, problematizadas e analisadas. Por túmulos virtuais (SILVA, POSTALI, 2014; PRÖGLHÖF JÚNIOR, 2013; SOUSA, AMORIM, 2017), compreendemos os perfis de pessoas mortas na vida real que seguem, de alguma forma, vivas e interagindo em suas redes sociais, mais especificamente, a rede social Facebook. O percurso metodológico é qualitativo (DENZIN, LINCOLN, 2006), dialógico (BAKHTIN, 2011; AMORIM, 2004) e com aportes netnográficos (NOVELI, 2010; KOZINETS, 1998). Se organiza em duas frentes principais: a) a coleta de dados em páginas do Facebook de túmulos virtuais ou usuários vivos e b) os enunciados de nove entrevistados, usuários do Facebook que, direta ou indiretamente, possuem relações com túmulos virtuais em suas redes sociais. Com estes dados a pesquisa objetiva: 1) problematizar o fenômeno dos túmulos virtuais no contexto da morte no ocidente; 2) Avaliar os enunciados performativo-dialógicos de túmulos virtuais, usuários que com eles interagem e sujeitos de pesquisa entrevistados e 3) Refletir sobre a linguagem e a educação para a morte, a partir dos túmulos virtuais. Além de teorizações sobre a morte (ÁRIES, 2012; MORIN, 2003; KOVÁCS, 2002, 2005), reflexões sobre a cibercultura, o ciberespaço e as novas mídias (FLUSSER, 2017; MARTINO, 2014), as análises contam com uma plataforma teórico-analítica que intenta confluir a perfomatividade de John Austin (AUSTIN, 1990; RAJAGOPALAN, 2010) e o dialogismo de Mikhail Bakhtin (2011) producente do que aqui se denomina perspectiva pragmático-dialógica. Em síntese, as reflexões e análises realizadas constatam, primeiramente, certa interdição quando o assunto é a morte, o morrer e o luto (ARIÈS, 2012). Tal interdição se estende, se ressignifica e se ressemiotiza quando praticadas no ciberespaço, em especial nas redes sociais como o Facebook. Particularmente, os túmulos virtuais constituem uma espécie de filtro ou de portal que dão acesso a essa complexa rede de sentidos sobre a morte e o luto. Considerado aqui como um fenômeno de linguagem – lido na confluência entre Flusser (2017), Bakhtin (2011) e Austin (1990) – a pesquisa demonstra que os túmulos virtuais e aqueles que com eles interagem, expressam estes sentidos em uma atmosfera dialógica produtora de enunciados performativos. Os enunciados, como analisado, se originam e se integram de uma cadeia dialógica do discurso no tempo histórico (BAKHTIN, 2011). É, justamente, essa dimensão dialógica que oportuniza enunciados e dizeres que performam, realizam concretamente ações na vida (AUSTIN, 1990). Esse ambiente discursivo peculiar pode se configurar em um instrumento de reflexão e educação para a morte apontando caminhos metodológicos de ensino-aprendizagem sobre a morte e o morrer em contexto escolar como abordado nas seções finais da pesquisa Ver menos

Abstract: "Of life's few certainties, death is the surest," attests the popular adage. Death, however, so intrinsically linked to life, has sometimes been the repelled suffering cause, fear and embarrassment for people. The scope of this thesis considers death as central, but in a new place: cyberspace. By taking a journey through death in Western culture and another journey through the revolutionary scenario of cyberculture and cyberspace brought about by the digital revolution of recent decades, this research finds in the phenomenon of virtual tombs the region where issues such as death, mourning and education for death can be catalogued, problematized and analysed. By virtual tombs (SILVA, POSTALI, 2014; PRÖGLHÖF JÚNIOR, 2013; SOUSA, AMORIM, 2017), we comprehend the profiles of people who died in real life but are still alive and interacting on their social media, specifically Facebook. The methodological approach is qualitative (DENZIN, LINCOLN, 2006), dialogical (BAKHTIN, 2011; AMORIM, 2004) and netnographic (NOVELI, 2010; KOZINETS, 1998). It is organized on two main fronts: a) data collection on Facebook pages of virtual tombs or living users and b) the statements of nine interviewees, Facebook users who, directly or indirectly, have relationships with virtual tombs on their social networks. With this data, the research aims to: 1) problematize the phenomenon of virtual tombs in the context of death in the West; 2) Evaluate the performative-dialogical statements of virtual tombs, the users who interact with them and the research subjects interviewed; and 3) Think about language and education for death, based on virtual tombs. In addition to theorizing about death (ÁRIES, 2012; MORIN, 2003; KOVÁCS, 2002, 2005), reflections on cyberculture, cyberspace and new media (FLUSSER, 2017; MARTINO, 2014), the analyses rely on a theoretical-analytical platform that tries to bring together John Austin's perfomativity (AUSTIN, 1990; RAJAGOPALAN, 2010) and Mikhail Bakhtin's dialogism (2011), which produces what is here called a pragmatic-dialogical perspective. To summarize, the reflections and analyses carried out reveal, firstly, a certain interdiction when it comes to death, dying and mourning (ARIÈS, 2012). This interdiction is extended, resignified and resemiotized when practiced in cyberspace, especially on social medias like Facebook. In particular, virtual tombs constitute a kind of filter or portal giving access to this complex network of meanings about death and mourning. Considered here as a language phenomenon - read at the confluence of Flusser (2017), Bakhtin (2011) and Austin (1990) - the research demonstrates that virtual tombs and those who interact with them express these meanings in a dialogical atmosphere that produces performative statements. Statements, as analyzed, originate and are integrated into a dialogical chain of discourse in historical time (BAKHTIN, 2011). It is precisely this dialogical dimension that provides the opportunity for statements and sayings that perform, concretely carrying out actions in life (AUSTIN, 1990). This peculiar discursive environment can become a reflection and education instrument for about death, pointing to methodological ways of teaching and learning about death and dying in a school context, as discussed in the final sections of the research Ver menos