Resumo: Esta tese procura avançar na resposta ao que parte da literatura marxista aponta como sendo uma de suas principais lacunas de desenvolvimento: a questão de se Karl Marx teria aderido às proposições ontológicas associadas ao projeto de "dialética da natureza" de Friedrich Engels. Ante a variação das posições assumidas pelos dois autores a respeito da relação entre filosofia e ciência ao longo da década de 1840, evidente em textos publicados ou preparados entre 1843 e 1849, e o sentido de suas intervenções nos debates que despontaram depois de 1850 na Alemanha em torno das limitações e potencialidades do conhecimento científico-natural, discernível principalmente a partir de sua correspondência entre 1850 e 1880, argumento que os indícios do interesse continuado, conquanto lateral, de Marx pela pesquisa empreendida por Engels visando à produção de parte do Anti-Dühring (1878) e da maioria dos textos publicados posteriormente na Dialética da Natureza (1873-1886) se vincula sobretudo à dimensão crítica, não propriamente ontológica do projeto que as animava. Tais indícios estão registrados esparsamente não só em sua correspondência, mas também em seus cadernos de estudo e em trechos de seus escritos publicados e não publicados. Por fim, levanto a hipótese de que essa postura remonta à apropriação que o autor teria feito da conceituação hegeliana da relação entre ciências do entendimento (Verstandswissenschaften) e ciência da razão (Vernunftswissenschaft) Ver menos

Abstract: This thesis addresses what part of Marxist literature identifies as one of its main development gaps: the question of whether Karl Marx subscribed to the ontological propositions underlying Friedrich Engels' project of the "dialectics of nature". In view of the variation in the positions assumed by the two authors on the relationship between philosophy and science throughout the 1840s – something evident in texts published or prepared between 1843 and 1849 – and of the meaning of their interventions in the debates on the limits and potentialities of natural-scientific knowledge that emerged after 1850 in Germany – something discernible mainly from their correspondence between 1850 and 1880 - I argue that the indications of Marx's continued, albeit lateral, interest in the research undertaken by Engels to produce of Anti-Dühring (1878) and the majority of the texts published later in Dialectics of Nature (1873-1886) are related not to the ontological, but to the critical dimension the project underpinning them. Such indications are sparsely recorded not only in his correspondence, but also in his study notebooks and in excerpts from his published and unpublished writings. Finally, I raise the hypothesis that this stance stems from the author's appropriation of the Hegelian conceptualization of the relationship between the sciences of understanding (Verstandswissenschaften) and the science of reason (Vernunftswissenschaft) Ver menos