Resumo: Acidentes de trabalho com exposição a material biológico expõem os trabalhadores da área de saúde ao risco de infecção por diferentes tipos de patógenos, sofrimento psíquico e podem causar afastamentos temporários ou permanentes no trabalho. O estudo objetivou analisar os acidentes com exposição a material biológico ocorridos entre os trabalhadores e acadêmicos da área de saúde, atendidos no Centro de Saúde da Comunidade da Universidade Estadual de Campinas, no período de 2011 a 2020. Estudo epidemiológico, analítico, descritivo, com abordagem quantitativa e qualitativa. A fonte e instrumentos de coleta dos dados foram às fichas de notificação dos acidentes, a análise de prontuário dos acidentados e a realização de uma entrevista individual com os residentes de medicina. Foram analisadas as variáveis sociodemográficas, as relativas ao acidente, proteção vacinal contra hepatite B e status sorológico anti-HBs, situação sorológica dos trabalhadores, dos pacientes fonte envolvidos e o uso da profilaxia pós-exposição ocupacional. Foram realizadas análises estatísticas das variáveis de interesse contidas nas fichas de notificação e a análise de conteúdo nas entrevistas. Na etapa qualitativa, vinte e um residentes de medicina foram entrevistados e identificados dois eixos temáticos: condições de trabalho e estado emocional do residente médico. Fatores como a sobrecarga de trabalho, o acúmulo de atividades, a equipe de saúde reduzida, e a imperícia do profissional contribuíram para a ocorrência do acidente com material biológico. Além disso, o cansaço, a fadiga, a privação do sono, desatenção e o estresse emocional também foram relatados. As percepções dos residentes médicos evidenciaram um cenário em que o processo de trabalho interfere no bem-estar físico e psíquico. Na etapa quantitativa, foram analisados os dados de 2.466 fichas de notificação. As mulheres (69,5%), residentes de medicina (35,7%) e técnicos de enfermagem (25,8%) foram os que mais notificaram os acidentes. Quanto ao estado vacinal dos trabalhadores de saúde, 98% declararam ter o esquema vacinal completo para Hepatite B e a presença do anti-HBs reagente foi detectada em 90,9%. Os achados demonstram que, apesar do risco de contaminação para o vírus da hepatite B, os profissionais estavam protegidos devido à elevada cobertura vacinal e com comprovação da imunidade. Quanto às características dos acidentes, houve a prevalência da exposição percutânea (76,4%) e o sangue como o material orgânico envolvido (83%). Os residentes de medicina sofreram mais acidentes nos primeiros dois anos do programa, enquanto, nos acadêmicos de medicina a maior frequência foi no quinto e sexto ano do curso (81,9%). Houve uma adesão completa ao tratamento (28 dias) de 77,45% entre os trabalhadores que tiveram indicação da profilaxia pós-exposição ao HIV, e o tempo para início da profilaxia de até 24h após o acidente em 94,27% dos casos. Não houve casos de soroconversão para o HIV, hepatite B e C. A conscientização e a educação precoce sobre a segurança no ambiente de trabalho devem ser prioridade no ensino aos futuros trabalhadores de saúde. Os achados reforçam a necessidade de treinamentos regulares com ênfase na prevenção de acidentes, controle de infecções e educação em saúde Ver menos

Abstract: Occupational accidents involving biological material expose health workers to infection through a wide range of pathogens and psychological distress, leading to temporary or permanent absences from work. This study analyzes exposure incidents involving biological material among health workers and medical students at the Community Health Center of the Universidade Estadual de Campinas from 2011 to 2020. This is an epidemiological, analytical, descriptive study with a quantitative and qualitative approach. Data were collected from incident notification forms, followed by incident report analysis and an individual interview with medical residents. Sociodemographic variables were analyzed, as well as those related to the incidents, anti-hepatitis B vaccine protection, anti-HBs serological status, worker serological status, source patients involved, and the use of occupational post-exposure prophylaxis. Statistical analysis was performed of the variables of interest in the notification forms and content analysis was performed on the interviews. In the qualitative stage, twenty- one medical residents were interviewed, and two thematic axes were identified, namely, work conditions and the emotional state of medical residents. Factors such as work overload, accumulated activities, short staffing of health teams, and worker malpractice contributed to the occurrence of exposure incidents with biological material. Moreover, exhaustion, fatigue, sleep deprivation, lack of attention, and emotional stress were also reported. According to the perceptions of medical residents, the work process interferes with physical and psychological well-being. In the quantitative stage, data from 2,466 notification forms were analyzed. Women (69.5%), medical residents (35.7%), and nursing technicians (25.8%) had the most exposure incidents. Regarding health worker vaccination, 98% reported having completed the vaccine schedule for hepatitis B, and the presence of the anti-HBS reagent was detected in 90.9%. The findings demonstrate that despite the risk of contamination by the hepatitis B virus, health workers were protected due to high vaccination coverage, with proof of immunity. Regarding exposure incident characteristics, most of the incidents involved percutaneous exposure (76.4%) and blood as the organic material (83%). Medical residents suffered more exposure incidents in the first two years of the course. For the medical students, the highest frequency of incidents was in the fifth and sixth years of the course (81.9%). Among the health workers with an indication of post-exposure prophylaxis against HIV, 77.45% completed treatment (28 days), and 94.27% initiated prophylaxis within 24 hours of the incident. No cases of seroconversion to HIV or hepatitis B and C were found. Early awareness and education regarding workplace safety should be a priority in the education of future health workers. We recommend regular training with an emphasis on exposure incident prevention, infection control and health education Ver menos