Resumo: A tese investiga a dramaturgia contemporânea paulistana a partir de 2015, com ênfase na reverberação do debate desencadeado pelo cancelamento da peça A mulher do trem, que recorria ao "blackface". O primeiro capítulo é dedicado à contextualização histórica deste procedimento de representação racista no teatro brasileiro e de sua origem na indústria cultural de massa estadunidense, destacando sua presença desde o início do processo de colonização e sua recorrência persistente até hoje. O debate em questão, ocorrido em 2015, desdobrou-se em uma ampla discussão sobre racismo e representação no teatro brasileiro, culminando em um diálogo profundo entre artistas e acadêmicos negros e brancos, que repercutiu não só na curadoria e ocupação de espaços culturais, mas também na ocupação de espaços simbólicos, como é possível identificar em algumas obras perscrutadas nesta pesquisa. A análise se estende para além do evento em si, examinando também outras manifestações culturais pós-2015 que abordam representações negras, como o cancelamento da performance sul-africana Exhibit B e o surgimento do Coletivo Legítima Defesa. Além disso, são estudadas dramaturgias contemporâneas que refletem e confrontam narrativas hegemônicas sobre a questão racial no Brasil, oferecendo uma panorâmica das disputas simbólicas em curso. Por meio de uma abordagem multidisciplinar que incorpora Estudos Culturais, Sociologia e História, a tese examina como a recusa ao blackface por artistas e ativistas, como Stephanie Ribeiro, insere-se em um legado histórico de resistência negra, que contribuiu para a construção de narrativas contra-hegemônicas no interior do teatro brasileiro. Ao relacionar agência e representação, o estudo posiciona essas manifestações dentro de um contexto mais amplo, inseridas em um projeto contra-hegemônico de país Ver menos

Abstract: This thesis investigates contemporary São Paulo's dramaturgy from 2015 onwards, with an emphasis on the reverberations of the debate sparked by the cancellation of the play A mulher do trem, which featured blackface. The first chapter is dedicated to the historical contextualization of this racist representation technique in Brazilian theater and its origins in the American mass cultural industry, highlighting its presence since the beginning of the colonization process and its persistent recurrence to this day. The debate in question, which took place in 2015, unfolded into a wide-ranging discussion about racism and representation in Brazilian theater, culminating in a profound dialogue between black and white artists and scholars, resonating not only in the curation and occupation of cultural spaces but also in the occupation of symbolic spaces, as can be identified in some works examined in this research. The analysis extends beyond the event itself, also examining other post-2015 cultural manifestations addressing the representation of blackness, such as the cancellation of the South African performance Exhibit B and the emergence of Coletivo Legítima Defesa. Furthermore, contemporary dramaturgies that reflect and confront hegemonic narratives about racial issues in Brazil are studied, offering an overview of ongoing symbolic disputes. Through a multidisciplinary approach incorporating Cultural Studies, Sociology, and History, the thesis examines how the rejection of blackface by artists and activists, such as Stephanie Ribeiro, fits into a historical legacy of black resistance, which has contributed to the construction of counter-hegemonic narratives within Brazilian theater. By relating agency and representation, the study situates these manifestations within a broader context, embedded in a counter-hegemonic project for the country Ver menos