Resumo: Pacientes com esquizofrenia, especialmente aqueles com esquizofrenia resistente ao tratamento, enfrentam riscos significativos de disfunções metabólicas e cardiovasculares. O uso de antipsicóticos de segunda geração, como a clozapina, está associado a efeitos adversos metabólicos que podem exacerbar esses riscos. No entanto, a integração de cuidados entre psiquiatras e clínicos gerais é muitas vezes insuficiente, resultando em uma lacuna crítica no manejo dessas condições. Objetivos: Avaliar os impactos metabólicos do tratamento com antipsicóticos em pacientes com primeiro episódio psicótico (PEP) e em pacientes com esquizofrenia resistente ao tratamento (ERT) comparando com variáveis sociodemográficas, antropométricas, escores de gravidade psicopatológica, efeitos colaterais, qualidade de vida e níveis séricos de marcadores bioquímicos e hormonais. Método: Estudo longitudinal consistiu em 36 pacientes internados na enfermaria de psiquiatria do HC-Unicamp. Foram incluídos 21 participantes no grupo de (PEP), sendo 9 mulheres, e 15 no grupo ERT, com apenas uma mulher. Os pacientes foram avaliados inicialmente e reavaliados após seis meses de tratamento ambulatorial. As variáveis avaliadas incluíram peso, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA), frequência cardíaca (FC), e níveis séricos de colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos, glicemia de jejum, insulina, adiponectina, leptina, e GLP-1. Resultados: A prevalência de ideação suicida foi significativamente maior no grupo ERT (60%) comparado ao grupo PEP (19%), com p=0,012. Após seis meses de tratamento, os pacientes com PEP apresentaram aumentos significativos em peso, IMC, CA (p<0,001) e FC (p=0,003). No grupo ERT, houve um aumento significativo no peso (p=0,047) e na FC (p=0,002), embora os aumentos no IMC e na CA não tenham sido significativos (p=0,069 e p=0,078, respectivamente). Além disso, o índice HOMA-IR aumentou significativamente de 2,0 para 4,5 no grupo PEP (p=0,04), enquanto diminuiu de 3,4 para 2,7 no grupo ERT (p=0,55). Os níveis de adiponectina diminuíram significativamente no grupo PEP (p=0,01) e no grupo masculino de ERT (p=0,033). Os níveis de insulina aumentaram no grupo PEP, sem significância estatística (p=0,23), enquanto diminuíram no grupo ERT (p=0,33). Os níveis de leptina aumentaram significativamente no grupo PEP (p=0,05) e os níveis de GLP-1 diminuíram em ambos os grupos, sem significância estatística. Conclusão: Os achados deste estudo destacam a necessidade urgente de intervenções multidisciplinares no manejo de pacientes com esquizofrenia, especialmente aqueles tratados com antipsicóticos de segunda geração. O aumento de marcadores de risco cardiovascular e disfunções metabólicas exige uma abordagem integrada que inclua monitoramento regular, intervenções dietéticas e de estilo de vida, e o uso de medicamentos como metformina e estatinas. A falta de intervenções farmacológicas específicas para síndrome metabólica em nossa amostra sublinha a importância de um acompanhamento clínico abrangente para melhorar a qualidade de vida e os desfechos de saúde desses pacientes Ver menos

Abstract: Patients with schizophrenia, particularly those with treatment-resistant schizophrenia (TRS), face significant risks of metabolic and cardiovascular dysfunctions. The use of second-generation antipsychotics, such as clozapine, is associated with adverse metabolic effects that can exacerbate these risks. However, the integration of care between psychiatrists and general clinicians is often insufficient, resulting in a critical gap in managing these conditions. Objectives: This study aims to evaluate the metabolic impacts of antipsychotic treatment in patients with first-episode psychosis (FEP) and those with TRS by comparing sociodemographic, anthropometric variables, psychopathological severity scores, side effects, quality of life, and serum levels of biochemical and hormonal markers. Methods: This longitudinal study included 36 patients hospitalized in the psychiatric ward of HC-Unicamp. The cohort comprised 21 participants in the FEP group (9 women) and 15 in the TRS group (1 woman). Patients were initially assessed and re-evaluated after six months of outpatient treatment. Evaluated variables included weight, body mass index (BMI), waist circumference (WC), heart rate (HR), and serum levels of total cholesterol, LDL, HDL, triglycerides, fasting glucose, insulin, adiponectin, leptin, and GLP-1. Results: The prevalence of suicidal ideation was significantly higher in the TRS group (60%) compared to the FEP group (19%), with p=0.012. After six months of treatment, FEP patients showed significant increases in weight, BMI, WC (p<0.001), and HR (p=0.003). In the TRS group, there was a significant increase in weight (p=0.047) and HR (p=0.002), although increases in BMI and WC were not significant (p=0.069 and p=0.078, respectively). Additionally, the HOMA-IR index significantly increased from 2.0 to 4.5 in the FEP group (p=0.04), while it decreased from 3.4 to 2.7 in the TRS group (p=0.55). Adiponectin levels significantly decreased in the FEP group (p=0.01) and in the male TRS group (p=0.033). Insulin levels increased in the FEP group without statistical significance (p=0.23) and decreased in the TRS group (p=0.33). Leptin levels significantly increased in the FEP group (p=0.05), and GLP-1 levels decreased in both groups without statistical significance. Conclusion: The findings of this study highlight the urgent need for multidisciplinary interventions in managing patients with schizophrenia, especially those treated with second-generation antipsychotics. The increase in cardiovascular risk markers and metabolic dysfunctions necessitates an integrated approach that includes regular monitoring, dietary and lifestyle interventions, and the use of medications such as metformin and statins. The absence of specific pharmacological interventions for metabolic syndrome in our sample underscores the importance of comprehensive clinical follow-up to improve the quality of life and health outcomes of these patients Ver menos