Manchando : (o que) fazer (com) a menstruação. Estratégias e experimentos para vazar questões feministas através das tecnociências
Clarissa Reche Nunes da Costa
TESE
Português
T/UNICAMP C823m
[Spotting]
Campinas, SP : [s.n.], 2024.
1 recurso online (340 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientador: Daniela Tonelli Manica
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Resumo: Partindo do alerta de antropólogas indígenas sobre a falta de respeito da academia com cuidados necessários para se ter uma menstruação digna, a primeira questão de pesquisa que animou esta tese foi: "se e como a experiência de menstruar durante encontros etnográficos é expressa no modo como...
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Resumo: Partindo do alerta de antropólogas indígenas sobre a falta de respeito da academia com cuidados necessários para se ter uma menstruação digna, a primeira questão de pesquisa que animou esta tese foi: "se e como a experiência de menstruar durante encontros etnográficos é expressa no modo como se produz conhecimento antropológico?". Ao iniciar os trabalhos, lidei com as armadilhas colocadas por essa pergunta, em especial com o fato de saber, desde o começo, que essas experiências não são expressas. Assim, eu teria que utilizar metodologias capazes de evocá-las. Foi então que uma pergunta anterior revelou-se escondida dentro da primeira: "se e como é possível manifestar as marcas que os corpos possuem e, de forma segura, insistir em produzir conhecimento acadêmico/ institucional?". Para seguir com esta questão, aliei-me com teóricas feministas dos estudos sociais da ciência e tecnologia e trabalhei com a hipótese de insistir em permanecer produzindo conhecimento, confeccionando conversas que não vão ferir os sentimentos estabelecidos da comunidade científica. A pesquisa etnográfica consistiu no planejamento, realização e análise de alguns experimentos. Para tanto, foram projetadas e utilizadas três estratégias metodológicas baseadas em ferramentas: de "des.enfeitiçamento", para evocar os materiais de pesquisa; de "cestaria", para coletar e transportar os dados; e de "figurações", para imaginar e pensar junto com o que foi produzido. Com base nessas estratégias metodológicas, foram realizados cincos experimentos: no primeiro, "As antropólogas e suas menstruações", experiências de menstruações (e suas ausências) vivenciadas por antropólogas foram dramatizadas em formato de caminhada por uma trilha ficcional; no segundo, "Manchas", visualizações gráficas do sangue menstrual foram produzidas a partir do envolvimento com a consciência e o controle dos músculos vaginais; no terceiro, "Miçangas", as propriedades de coagulação e cristalização do sangue menstrual foram tensionadas na construção de pequenos objetos, em uma aproximação material com teorias ameríndias; no quarto, "Caleidoscópio", foi projetado um dispositivo digital de captura não-ofensiva da atenção, o qual foi apresentado à comunidade científica; no quinto, um conto de ficção científica foi composto a partir dos experimentos anteriores. Como resultado dos experimentos, é apresentada a figuração "armadilha" como estratégia de insistência para nós, corpos marcados. Esta estratégia nos permite experimentar formas de pesquisar que, ao mesmo tempo, são capazes de realizar as denúncias necessárias e colocam em prática modos possíveis de produção de conhecimentos tecnocientíficos que nos interessam. Por fim, conclui-se que a utilização das menstruações como material de pesquisa mostrou-se fértil, com bastante capacidade de provocar perturbações e deslocamentos. O potencial de encantamento estético do sangue menstrual funcionou como (contra)armadilha para fazer com que questões feministas pudessem vazar de forma segura. A lógica de produtividade, que faz com que as experiências de menstruação sejam ocultadas, perdeu espaço, temporariamente, para uma lógica de vida e de prazer dos sentidos
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Abstract: Starting from the warning issued by indigenous anthropologists regarding the lack of respect from academia towards the necessary care for dignified menstruation, the first research question that inspired this thesis was: "whether and how the experience of menstruating during ethnographic...
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Abstract: Starting from the warning issued by indigenous anthropologists regarding the lack of respect from academia towards the necessary care for dignified menstruation, the first research question that inspired this thesis was: "whether and how the experience of menstruating during ethnographic encounters is expressed in the way anthropological knowledge is produced?". As I began the work, I grappled with the trap posed by this question, especially with the realization that these experiences are not readily expressed. Thus, I would have to employ methodologies capable of evoke them. It was then that a prior question revealed itself hidden within the first: "whether and how it is possible to manifest the marks that bodies carry and, safely, insist on producing academic/institutional knowledge?". To pursue this question, I allied myself with feminist theorists from the social studies of science and technology and worked with the hypothesis of persisting in producing knowledge, crafting conversations that would not hurt the established sentiments of the scientific community. The ethnographic research consisted of planning, conducting, and analyzing several experiments. To this end, three methodological strategies based on tools were designed and employed: "disenchantment" to evoke research materials; "basketry" to collect and transport data; and "figurations" to imagine and think alongside what was produced. Based on these methodological strategies, five experiments were conducted: in the first, "Anthropologists and their menstruations", experiences of menstruation (and its absences) lived by anthropologists were dramatized in the form of a walk along a fictional trail; in the second, "Stains," graphic visualizations of menstrual blood were produced through engagement with the awareness and control of vaginal muscles; in the third, "Beads," the coagulation and crystallization properties of menstrual blood were stressed in the construction of small objects, in a material approach to Amerindian theories; in the fourth, "Kaleidoscope," a non-offensive attention-capturing digital device was designed, which was presented to the scientific community; in the fifth, a science fiction tale was composed based on the previous experiments. As a result of the experiments, the "trap" figuration is presented as a strategy of persistence for us, marked bodies. This strategy allows us to experiment with research methods that, at the same time, are capable of making necessary denunciations and putting into practice possible ways of producing techno-scientific knowledge that interest us. Finally, it is concluded that the use of menstruation as research material has proven fertile, with significant potential to provoke disturbances and displacements. The aesthetic enchantment potential of menstrual blood served as a (counter)trap to allow feminist issues to safely leak out. The logic of productivity, which leads to the concealment of menstrual experiences, temporarily gave way to a logic of life and sensory pleasure
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Requisitos do sistema: Software para leitura de arquivo em PDF
Aberto
Manica, Daniela Tonelli, 1976-
Orientador
Pisani, Marilia Mello
Avaliador
Parra, Henrique Zoqui Martins
Avaliador
Bruno, Fabiana, 1974-
Avaliador
Monteiro, Marko Synésio Alves, 1975-
Avaliador
Manchando : (o que) fazer (com) a menstruação. Estratégias e experimentos para vazar questões feministas através das tecnociências
Clarissa Reche Nunes da Costa
Manchando : (o que) fazer (com) a menstruação. Estratégias e experimentos para vazar questões feministas através das tecnociências
Clarissa Reche Nunes da Costa