Resumo: As perguntas que levaram a esta pesquisa nasceram da minha experiência enquanto mulher negra e professora em escolas públicas no município de São Paulo. O propósito de pensar sobre minhas práticas pedagógicas e sobre como elas estavam relacionadas aos processos de construção da minha identidade racial e docente, condicionada pelo racismo, pelo patriarcado e pelo capitalismo, desde criança nos espaços escolares até a formação no magistério e na graduação, foram o ponto de partida. Neste sentido, este estudo tem como objetivo principal investigar como mulheres negras produzem epistemologias pedagógicas a partir das experiências condicionadas por essas matrizes de dominação, e que práticas elas elaboram a partir desse conhecimento. Para tanto utilizamos a pesquisa narrativa de caráter qualitativo amparado em Walter Benjamin, e como instrumento para a produção dos retalhos de lembranças das professoras negras que atuam na rede pública municipal de educação da cidade de São Paulo, as entrevistas semiestruturadas. Foi através dos retalhos de lembranças e as ferramentas teóricas de autorrecuperação, autoatualização e amor elaboradas por bell hooks, que buscamos compreender os processos de produção dessas epistemologias, bem como o modo pelo qual as intersecções de raça, gênero e classe condicionam essas experiências, produzindo formas específicas de hierarquização e exclusão que impactam a subjetividade e a vida material dessas mulheres, mobilizando o conceito cunhado pela autora como patriarcado capitalista supremacista imperialista branco. Teorizar o cotidiano vivido, apesar de ser um processo doloroso, pode produzir conhecimentos de um ponto de vista privilegiado, desviando o ponto da margem ao centro, com grande influência na educação, ao passo que essas mulheres são sujeitas integrais, e mobilizam essas epistemologias nos espaços em que atuam. Essas experiências carregam consigo pontos de aproximação que, para Carolina Santos B. de Pinho são a base de uma teoria pedagógica engajada e radical, identificada como Pedagogia Feminista Negra. A pesquisa se mostra potente porque pode oferecer subsídios para a formação de professoras que rompam os paradigmas hegemônicos a partir daquelas implicadas diretamente nos espaços de educação pública, possibilitando a produção de práticas pedagógicas que contestem as parcialidades dos sistemas de educação, em consonância com os princípios de equidade, integralidade e inclusão presentes no Currículo da Cidade de São Paulo, construindo assim uma educação fundamentalmente antirracista Ver menos

Abstract: The questions that led to this research were born from my experience as a black woman and teacher in public schools in the city of São Paulo. The purpose of thinking about my pedagogical practices and how they were identity related to the processes of construction of my race and teaching, conditioned by racism, patriarchy and capitalism, from childhood in school spaces to teaching training and graduation, were the starting point. In this sense, this study's main objective is to investigate how black women produce pedagogical epistemologies based on experiences conditioned by these matrices of domination, and what practices they develop based on this knowledge. To this end, we used narrative research of a qualitative nature based on Walter Benjamin, and as an instrument for producing fragments of memories of black teachers who work in the municipal public education network in the city of São Paulo, semi-structured interviews. It was through the reports of memories and the theoretical tools of self-recovery, self-actualization and love elaborated by bell hooks, that we sought to understand the production processes of these epistemologies, as well as the way in which the intersections of race, gender and class condition these experiences, producing specific forms of hierarchization and exclusion that impact the subjectivity and material life of these women, mobilizing the concept coined by the author as white imperialist supremacist capitalist patriarchy. Theorizing the vivid everyday life, despite being a painful process, can produce knowledge from a privileged point of view, shifting the point from the margin to the center, with great influence on education, while these women are integral subjects, and mobilize these epistemologies in spaces in which they operate. These experiences carry points of rapprochement that, for Carolina Santos B. de Pinho, are the basis of an engaged and radical pedagogical theory, identified as Black Feminist Pedagogy. The research is powerful because it can offer support for the training of teachers who break hegemonic paradigms based on those directly involved in public education spaces, enabling the production of pedagogical practices that contest the partialities of education systems, in line with the principles of equity, integrality and inclusion in the Curriculum of the City of São Paulo, thus building a fundamentally anti-racist education Ver menos