Resumo: O compromisso firmado internacionalmente pelo governo brasileiro no controle do plantio, uso e venda da Cannabis é o ponto de partida para o bicho de sete cabeças que se tornaria a política de drogas no país. O objetivo desta tese foi entender como a nova política se atrelou às práticas repressivas anteriormente estabelecidas no Brasil e incidiu sobre a vida das pessoas que se tornaram alvo de suas penalidades. Para isso, foram percorridos dois caminhos que estão indicados pelas duas partes que organizam o texto. A primeira delas, voltada para as décadas anteriores à criminalização, segue as pistas dos jornais e revistas de circulação nacional a fim de entender como as classes letradas manejavam os diferentes nomes da planta conforme os seus próprios interesses de consumo da planta e de controle sobre a população negra. Já a segunda parte se debruça sobre a cidade do Rio de Janeiro durante as primeiras décadas após a proibição. O cruzamento dos periódicos com os documentos judiciários e administrativos do então Distrito Federal revela como se deu a atuação policial naquele momento e qual o perfil e as trajetórias dos suspeitos levados à delegacia e à Casa de Detenção. Destacam-se o acirramento do combate às religiões de matriz africana, a mudança nos usos, na economia e nos significados coletivamente atribuídos a erva, o constante policiamento dos bairros de trabalhadores pobres na região portuária e no Morro da Favela e uma população carcerária incursa em seus dispositivos, masculina, majoritariamente descrita como preta e parda. Revela, enfim, como o racismo e a eugenia denunciados pela literatura proibicionista dos anos anteriores se traduziram na definição que as autoridades fariam sobre o conjunto de pessoas que deveria pagar o preço da nova política Ver menos

Abstract: The commitment internationally signed by the Brazilian government to control the planting, use and sale of Cannabis is the starting point for the seven-headed beast that would become drug policy in the country. The objective of this thesis was to understand how the new policy was linked to repressive practices previously established in Brazil and affected the lives of people who became the target of its penalties. For this, two paths were taken, which are indicated by the two parts that organize the text. The first of them, focused on the decades prior to criminalization, follows the tracks of nationally circulated newspapers and magazines in order to understand how the literate classes wielded the different names of the plant according to their own interests in plant consumption and control over the black population. The second part focuses on the city of Rio de Janeiro during the first decades after prohibition. The cross-referencing of periodicals with judicial and administrative documents from the then Federal District exposes how police action took place at that time and the profile and trajectories of the suspects taken into custody at police stations and the "House of Detention". The highlighted findings of the research are the escalation of the combat against religions of African origin, the change in uses, in the economy and in the meanings collectively attributed to the herb, the constant policing of poor working-class neighborhoods in the port region and in Morro da Favela, and a prison population incurred in its male devices, mostly described as black and racially-mixed. Finally, it reveals how the racism and eugenics denounced by the prohibitionist literature of previous years were translated into the definition that the authorities would use to define the group of people who would have to pay the price for the new policy Ver menos