Andando pelo Caminho Vermelho : por uma contracolonização do corpo
Rodrigo Iamarino Caravita
TESE
Português
T/UNICAMP C176a
[Walking the Red Road]
Campinas, SP : [s.n.], 2022.
1 recurso online (423 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientador: Ronaldo Rômulo Machado de Almeida
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Resumo: Buscamos, nesta tese, realizar uma cartografia - o desenho de um mapa em movimento, que se faz ao mesmo tempo em que as paisagens (psicossociais) são desmontadas e remontadas -, de algumas práticas xamânicas que têm ganhado visibilidade a partir de relações cada vez mais profícuas entre...
Ver mais
Resumo: Buscamos, nesta tese, realizar uma cartografia - o desenho de um mapa em movimento, que se faz ao mesmo tempo em que as paisagens (psicossociais) são desmontadas e remontadas -, de algumas práticas xamânicas que têm ganhado visibilidade a partir de relações cada vez mais profícuas entre indígenas e não indígenas. Tomamos como ponto de entrada uma dessas relações: a chegada de algumas práticas e substâncias a um grupo Guarani. Tais práticas podem ser vistas sob a alcunha genérica de Caminho Vermelho - um conceito de inspiração Lakota que, desterritorializado de suas origens, começa a circular por todo o continente americano. Com uma criativa e política de "antropofagização" de tais práticas, algumas aldeias guarani passaram a realizá-las em suas terras. Em meu primeiro contato com Geraldo, líder indígena guarani, fui logo advertido que poderia pesquisá-las desde que aceitasse "experimentá-las em meu próprio corpo". Sendo assim, essa pesquisa parte da premissa de minha participação ativa e da tentativa de relatar experiências muitas vezes tomadas como íntimas, subjetivas e profundas. A fenomenologia e seu apreço pelo corpo e pela experiência foi um porto seguro para a teoria que aqui esboçamos. Teoria esta que encontrou na virada afetiva - a importância e explicitação dada aos encontros de corpos, emoções, sensações e sentimentos - uma maneira para escapar do solipsismo da experiência (afinal, como falar da ayahuasca sem dizer "vá lá e experimente você mesmo"?), atentando-se aos efeitos (e afetos) que essas práticas despertam e ao uso (micro)político que muitos grupos, especialmente os Guarani, têm feito delas. Um dos principais efeitos que encontramos em campo é o conceito por mim (re)formulado de uma "contracolonização do corpo". Dialogando com a teoria pós-colonial e com ideias recorrentes como a de(s)colonização do conhecimento e do pensamento, propomos uma aparente inversão: se o corpo é de suma importância para as cosmologias ameríndias, é necessário de(s)colonizá-lo antes, ou melhor, contracolonizá-lo. Não apenas desfazê-lo e reconstruí-lo em oposição, mas efetuar um corpo política e micropoliticamente contrário ao colonialismo e suas atuais associações (patriarcado, capitalismo, racismo etc.). Encontramos assim, nas chamadas plantas mestras (e em todas as práticas associadas) e nos efeitos corporais por elas suscitados, uma possibilidade para a construção desse corpo, com todos os afetos envolvidos, já que, frequentemente, essas práticas são poderosos dispositivos - uma máquina - de incorporação dos outros, utilizadas habilmente pelos indígenas. Nesse processo é fundamental que os corpos, dos brancos, principalmente, sejam re-feitos, contra-feitos, pacificados, domesticados, contracolonizados
Ver menos
Abstract: In this thesis, we seek to carry out a cartography - the drawing of a map in movement, which is made at the same time that the (psychosocial) landscapes are dismantled and reassembled - of some shamanic practices that have gained visibility from increasingly fruitful relationships between...
Ver mais
Abstract: In this thesis, we seek to carry out a cartography - the drawing of a map in movement, which is made at the same time that the (psychosocial) landscapes are dismantled and reassembled - of some shamanic practices that have gained visibility from increasingly fruitful relationships between indigenous and non-indigenous people. We take one of these relationships as an entry point: the arrival of some practices and substances to a Guarani group. Such practices can be seen under the generic label of Red Road - a Lakota-inspired concept that, deterritorialized from its origins, begins to circulate across the entire American continent. With a creative and policy of "anthropophagization" of such practices, some Guarani began to perform them on their lands. In my first contact with Geraldo, a Guarani indigenous leader, I was immediately warned that I could research them as long as I agreed to "try them on my own body". Therefore, this research starts from the premise of my active participation and the attempt to report experiences that are often taken as intimate, subjective and profound. Phenomenology and its appreciation of the body and experience was a safe haven for the theory we outline here. This theory found in the affective turn - the importance and explicitness given to the encounters of bodies, emotions, sensations and feelings - a way to escape the solipsism of experience (after all, how to talk about ayahuasca without saying "go there and try it for yourself"? ), paying attention to the effects (and affects) that these practices arouse and paying attention to the (micro)political use that many groups, especially the Guarani, have made of them. One of the main effects that we found in the field is the concept I (re)formulated of a "counter-colonization of the body". In dialogue with postcolonial theory and with recurring ideas such as the de(s)colonization of knowledge and thought, we propose an apparent inversion: if the body is of fundamental importance for Amerindian cosmologies, it is necessary to de(s)colonize it before, or rather, counter-colonize it. It would be necessary not only to undo it and reconstruct it in opposition, but to create a body politically and micropolitically opposed to colonialism and its current associations (patriarchy, capitalism, racism, etc.). We thus find, in the so-called master plants (and in all associated practices) and in the bodily effects raised by them, a possibility for the construction of this body, with all the affections involved, since these practices are often powerful devices - a machine - of incorporation of others, used skillfully by the indigenous people. In this process, it is essential that the bodies of whites, mainly, be re-made, counter-made, pacified, domesticated, counter-colonized.
Ver menos
Requisitos do sistema: Software para leitura de arquivo em PDF
Aberto
Almeida, Ronaldo, 1966-
Orientador
Thomaz, Omar Ribeiro, 1965-
Avaliador
Toniol, Rodrigo, 1988-
Avaliador
Andrello, Geraldo Luciano, 1964-
Avaliador
Macedo, Valéria Mendonça de
Avaliador
Castallanos, Angela Renée de la Torre
Avaliador
Andando pelo Caminho Vermelho : por uma contracolonização do corpo
Rodrigo Iamarino Caravita
Andando pelo Caminho Vermelho : por uma contracolonização do corpo
Rodrigo Iamarino Caravita