Orientador: Maria Filomena Spatti Sandalo

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem

Resumo: Esta dissertação tem como objeto as sequências vocálicas (ditongos e hiatos) do português brasileiro e consistiu na análise dos seguintes fenômenos: (i) a redução de ditongos decrescentes orais para uma vogal simples a partir do apagamento da semivogal; (ii) a epêntese de [j] em sílabas...

Resumo: Esta dissertação tem como objeto as sequências vocálicas (ditongos e hiatos) do português brasileiro e consistiu na análise dos seguintes fenômenos: (i) a redução de ditongos decrescentes orais para uma vogal simples a partir do apagamento da semivogal; (ii) a epêntese de [j] em sílabas terminadas em /s/; (iii) a epêntese de uma semivogal homorgânica entre hiatos; e (iv) a elevação da V1 em hiatos. O primeiro fenômeno denomina-se monotongação, o segundo, ditongação e o terceiro e quarto, resolução de hiatos. Buscou-se, dessa maneira, investigar se os fenômenos eram sensíveis à proeminência posicional e à dispersão acústica dos vocoides. Segundo Beckman (1998, 1999), Smith (2005) e Becker et al. (2018), sílabas tônicas, sílabas iniciais e monossílabos são posições de alta proeminência psicolinguística e fonética e por isso demandam material segmental proeminente, isto é, na monotongação, essas posições resistiriam mais a perda da semivogal; na ditongação, facilitariam a epêntese; e na resolução de hiatos, prefeririam a resolução através da epêntese em vez da elevação da V1, pois o ditongo é mais proeminente que uma vogal simples. Em relação à dispersão acústica, de acordo com Flemming (2004), Nevins (2012), Becker et al. (2018) e Casali (2011), sequências vocálicas de baixo contraste (tanto em sonoridade, quanto nas dimensões acústicas F1 e F2) são menos preferidas nas línguas por serem menos distintivas perceptivamente e, consequentemente, mais evitadas. A fim de testar as hipóteses de que a proeminência posicional e a dispersão acústica influenciam os fenômenos, elaborou-se experimentos de julgamento de aceitabilidade da monotongação, da ditongação e da resolução de hiatos em palavras reais e logatomas (palavras inventadas que obedecem à fonotática da língua). Os experimentos consistiram em um teste de sim ou não, em que os participantes eram apresentados a diferentes pronúncias de uma mesma palavra e foram instruídos a avaliá-las como natural ou não natural. Os resultados obtidos na análise estatística, embora assimétricos, corroboraram as hipóteses – a monotongação foi mais evitada em posições fortes e os ditongos, em que a redução foi mais aceita, foram os de pouco contraste em F2; a ditongação foi mais aceita em posições fortes; e a resolução de hiatos através da epêntese foi mais aceita em posições fortes enquanto a resolução através da elevação da V1 foi mais aceita em posições fracas. Para modelar a gramática que explique esses fenômenos utilizou-se da Gramática de Máxima Entropia que diferentemente da Teoria da Otimalidade, permite modelar uma gramática com variação, isto é, com mais de um output possível. Através da atribuição de pesos às restrições e das respostas obtidas nos experimentos, foi possível calcular, utilizando a ferramenta MaxEnt Grammar Tool qual output tem maior previsão de ocorrência na língua. Embora os efeitos do privilégio posicional e da dispersão acústica não sejam uniformes e simétricos nos três fenômenos, os resultados demonstram como fatores acústico e suprassegmentais influenciam a percepção de sequências vocálicas no PB

Abstract: This dissertation has as its study object the vowel sequences, diphthongs, and hiatuses of Brazilian Portuguese. It consists of the analysis of the following phenomena: (i) the reduction of oral diphthongs to a simple vowel from the deletion of the glide; (ii) the epenthesis of [j] in...

Abstract: This dissertation has as its study object the vowel sequences, diphthongs, and hiatuses of Brazilian Portuguese. It consists of the analysis of the following phenomena: (i) the reduction of oral diphthongs to a simple vowel from the deletion of the glide; (ii) the epenthesis of [j] in syllables ending in /s/; (iii) the epenthesis of a homorganic glide between hiatus; (iv) the elevation of V1 in hiatus. The first phenomenon is called Monophthongization, the second is Diphthongization, and the third and fourth is Hiatus Resolution. Such analysis sought to investigate whether these phenomena were sensitive to the positional prominence and acoustic dispersion of vocoids. According to Beckman (1998, 1999), Smith (2005), and Becker et al. (2018), stressed syllables, initial syllables, and monosyllables are positions of high psycholinguistic and phonetic prominence, hence, they demand prominent segmental material, i.e., in Monotongation, those positions would have more resistance to losing the glide, in Diphthongization, they would facilitate epenthesis, and in Hiatus Resolution, they would prefer resolution through epenthesis rather than raising the V1, as the diphthong is more prominent than a single vowel. Regarding the acoustic dispersion, according to Flemming (2004), Nevins (2012), Becker et al. (2018), and Casali (2011), low contrast vowel sequences (both in sonority and in the acoustic dimensions F1 and F2) have a lower preference in languages because they are perceptually less distinctive and, consequently, they are often avoided. In order to test the hypotheses that positional prominence and acoustic dispersion indeed influence those phenomena, experiments were conducted to judge the acceptability of Monophthongization, Diphthongization, and Hiatus Resolution in real words and nonsense words (invented words that obey the phonotactics of the language). The experiments consisted of a Yes/No test in which participants were presented with different pronunciations of the same word and instructed to rate them as natural or unnatural. The obtained results with the statistical analysis, although asymmetric, corroborated the hypotheses. Monophthongization was often avoided in strong positions and the diphthongs in which the reduction was considered acceptable were those with small contrasts in F2. Diphthongization was more accepted in strong positions, and the Hiatus Resolution through epenthesis was often welcomed in strong positions while resolution through V1 elevation was more accepted in weak positions. The Maximum Entropy Grammar was the reference to model the grammar that explains these phenomena, unlike Optimality Theory, it allowed the modeling of grammar with variation, i.e., with the possibility of more than one output. By assigning weights to the constraints and using the obtained results, it is possible to predict which output will have the highest occurrence using the MaxEnt Grammar Tool. Although the effects of positional prominence and acoustic dispersion are not uniform and symmetrical in those three phenomena, they demonstrate how acoustics and suprasegmental factors influence the perception of vowel sequences in Brazilian Portuguese

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