Os novos lugares ou dimensões do fazer manual na arte contemporânea
ARTIGO
Português
REFLETIR SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA A PARTIR DA IDEIA DE UM FAZER MANUALpoderá parece anacrônico numa época em que as discussões sobre a prática artística se voltam cada vez mais para os conceitos de imaterialidade e de virtualidade, e na qualassistimos ao crescimento ...
REFLETIR SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA A PARTIR DA IDEIA DE UM FAZER MANUALpoderá parece anacrônico numa época em que as discussões sobre a prática artística se voltam cada vez mais para os conceitos de imaterialidade e de virtualidade, e na qualassistimos ao crescimento progressivo do fenômeno da terceirização técnica num mercado capitalista onde proliferam meios de produção industrializados.Por outro lado, a tradição artística ocidental tem sido, em grande parte, marcada por um entendimento da arte a partir do objeto final, negligenciando os processos do fazer e, assim, limitando e obstruindo a discussão em torno desses processos3.Contudo, existem formas de manifestação artística que exigem uma reflexão acerca de processosde criação ligados à manualidade na obra, não só como uma forma de reconfiguração matérica e plástica, mas também como uma forma de linguagem que pode refletir e potenciar uma crítica à globalização e ao excesso de consumo, bem como às narrativas do fazer atualmente dominantes.Se a desmaterialização da arte nos coloca o problema de rastrear os processos criativos, também é verdade que o lugar da manualidade na arte tem sido pouco reconhecido e estudado, o que coloca exatamente o mesmo problema. Em ambos os casos, podemos dizer que o processo está na obra, em cena mas também nos seus bastidoresou circuitos internos, importando investigar relações entre esses dois espaços. O presente artigo, baseadono estudo de doutorado da primeira autora4, abordaos possíveis novos lugares ou dimensões do fazer manual na arte contemporâneaa partir do testemunho e obras de dez artistas entrevistados: Alexandre da Cunha(Brasil), Arna Óttarsdóttir (Islândia), Brie Ruais(E.U.A.),Caroline Achaintre(França), Ingrid Wiener(Áustria),Jonathan Trayte(Reino Unido), Juliana Cerqueira Leite(Brasil),Luke Armitstead(E.U.A), Sônia Gomes(Brasil)e Tiago Mestre(Portugal). As entrevistas, de natureza semi-estruturada, foram realizadas por email ou presencialmente, a partir de um roteiro deoito perguntas abertas, convidando os artistas a refletirem acerca da presença da manualidade na prática artística contemporânea, em particular, no seu próprio trabalho5.A escolha dos artistas obedeceu aos seguintes critérios: enquadramento do seu trabalho artístico na problematização do fazer manual na contemporaneidade;envolvimento físicocom os processos do fazer das suas obras;regularidadeda sua atividade emexposições, projetos e participação no mercado; e, finalmente, diversidadegeográfica, abrangendo-seartistas de distintas nacionalidades (brasileira, norte-americana, britânica, francesa, islandesa, austríaca e portuguesa).O artigo procura reconhecer e evidenciaro lugar da manualidade nos processos e objetos artísticos. Embora o trabalho de cada artista se constitua na sua particularidade, foram identificadascincodimensões do fazer manual que ilustramos no artigo: novos diálogos com o corpo, performance ou a “mão-em-ação”, permanência do fazer tradicional manual, uso expandido das técnicas tradicionais e reivindicação de uma posição politizada do fazer
Aberto
Os novos lugares ou dimensões do fazer manual na arte contemporânea
Os novos lugares ou dimensões do fazer manual na arte contemporânea
Fontes
Manuscrítica – Revista de Crítica Genética, no. 40 (2020), p. 33-49 |