Tese (livre-docencia) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo estudar a patologização do processo ensino-aprendizagem, em busca dos mecanismos e formas de pensamento que a informam e mantém. Trabalhando com nove escolas da Rede Municipal de Educação de Campinas, entrevistou-se diretores e professores, sobre suas opiniões...

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo estudar a patologização do processo ensino-aprendizagem, em busca dos mecanismos e formas de pensamento que a informam e mantém. Trabalhando com nove escolas da Rede Municipal de Educação de Campinas, entrevistou-se diretores e professores, sobre suas opiniões acerca das causas do não-aprender, categorizando-as em: causas centradas na criança, na família, no professor, na escola e no sistema educacional. Entrevistou-se, também, profissionais da Saúde (médicos, psicólogos, fonoaudiólogos) que atendem na Rede de Saúde as crianças que "não aprendem na escola", encaminhadas pela escola para diagnóstico e tratamento. Estudou-se, ainda, as respostas de quatrocentos e oitenta e dois profissionais de Educação e de Saúde a perguntas específicas de um pré-teste aplicado no início de cursos sobre a patologização da aprendizagem. Além das formas de pensamento, buscou-se o referencial teórico que as sustenta. Todos os profissionais, seja da Educação ou da Saúde, centram as causas do fracasso escolar em problemas da criança e da família, isentando de responsabilidades o sistema educacional. Seu referencial se constrói, exclusivamente, pela experiência. Entre as crianças indicadas como tendo mau rendimento escolar, não se apontou nenhuma por problema pedagógico. Entre as apontadas como tendo problemas de saúde, selecionou-se setenta e cinco para estudo clínico, não se confirmando em nenhuma o "diagnóstico" da escola. Em todas, o estigma de doente é incorporado intensamente, com repercussões sobre a auto-estima e, portanto, sobre suas realizações, dificultando-as. A análise do discurso dos entrevistados revelou a intensidade com que os preconceitos permeiam suas opiniões e ações, infiltrando-se no cotidiano de suas vidas e da sala de aula

Abstract: The objective of this study is to identify underlying mental organization involved in the "medicalization" of teaching and learning processes. Directors and teachers at nine schools of the Municipal School District, Campinas, Sao Paulo, Brazil, were interviewed of their opinions as to the...

Abstract: The objective of this study is to identify underlying mental organization involved in the "medicalization" of teaching and learning processes. Directors and teachers at nine schools of the Municipal School District, Campinas, Sao Paulo, Brazil, were interviewed of their opinions as to the causes of students not learning, categorized as related to the pupil, his or her family, the teacher, the school and/or educational system. Also interviewed were various professionals who work in municipal health services (doctors, psychologists, speech therapists) with "non-learning" children referred for treatment by the school. In addition, the results of a pretest administered to four-hundred eighty-two professionals in Education and Health Services taking courses in the "medicalization" of teaching and learning were analyzed for an underlying theoretical reference that might justify thought processes and organization. All the professionals, whether in Education or Health related fields, focused the causes for school failure on the problems of the child or his family, excusing from responsibility the educational system, the referential basis for such conclusions being merely his or her own experience. In no case was bad school performance attributed to pedagogical problems. Seventy-five children, among the cases studied, said to have "health problems" were selected for clinical follow-up. In none of these cases was the "diagnosis" of the school confirmed. In all cases, a stigma of illness caused repercussions to the self-steem of the child, with further deleterious effect on school performance- The analysis of the material studied revealed that extreme prejudice permeated the opinions and decisions of those interviewed, infiltrating activities in daily life and in the classroom