Orientadores: Greciely Cristina da Costa, Marta Mourão Kanashiro

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem

Resumo: Fundamentado no dispositivo teórico-metodológico da Análise de Discurso materialista, este trabalho busca compreender o processo discursivo sobre a diferença pela maneira como um corpo de uma mulher é olhado e cuja significação recai sobre uma personagem de telenovela. Para tanto, toma-se...

Resumo: Fundamentado no dispositivo teórico-metodológico da Análise de Discurso materialista, este trabalho busca compreender o processo discursivo sobre a diferença pela maneira como um corpo de uma mulher é olhado e cuja significação recai sobre uma personagem de telenovela. Para tanto, toma-se como objeto de análise o discurso da telenovela Viver a Vida, escrita por Manoel Carlos, produzida e veiculada pela Rede Globo de televisão entre os anos de 2009 e 2010. Detenho-me especificamente na trajetória da personagem Luciana, interpretada pela atriz Alinne Moraes. A construção discursiva dessa personagem e sua trajetória na trama constituem um processo de significação da diferença. A princípio, Luciana é apresentada como uma mulher jovem, bonita e cujo maior sonho é alcançar o sucesso na carreira de modelo. No entanto, um acidente automobilístico muda a vida da personagem após receber o diagnóstico de tetraplegia, como resultado de uma lesão cervical. Encarando o corpo, em conjunto com Hashiguti (2008), em sua espessura material significante, e o olhar enquanto um gesto interpretativo, explicito o processo discursivo da telenovela sempre na relação com o modo como o corpo da personagem Luciana é mostrado na tela e significado pelos demais personagens. A diferença dos olhares discursivos para seu corpo, depois do acidente que resulta na perda dos movimentos, permite explicitar um discurso sobre a diferença que se estabelece na telenovela. Considerando a mídia em seu lugar de poder, tomo a telenovela enquanto um objeto simbólico que produz sentidos (ORLANDI, 2003) e regulariza uma versão possível (MEDEIROS, 2014). A partir disso, questiona-se: que versão se constrói para a mulher com o corpo diferente a partir da maneira que a personagem é construída e significada? Que sentidos são atribuídos ao corpo da personagem antes e depois do acidente? Será possível entrever nesse movimento a atualização dos sentidos de deficiência que se constituíram na história? A trajetória de Luciana ainda permite observar como a cadeira de rodas interfere no processo de significação do corpo e, consequentemente, do próprio sujeito, e como o efeito de superação se constrói e significa um sujeito que tem no corpo um traço de diferença. Tal discurso se constitui por aquilo que se mostra e por aquilo que se apaga. Pelo dito e o não-dito. Um processo discursivo que se fundamenta no funcionamento da memória, no confronto do simbólico com o político, e da metáfora. Um movimento que abre uma discussão para a inclusão social, tão falada em nossa conjuntura, além de expor a manutenção dos sentidos atribuídos a sujeitos que foram historicamente silenciados e cujos corpos foram apagados. A personagem Luciana, portanto, encarna um discurso produzido em uma conjuntura que não suporta olhar para a diferença a partir do momento que precisa acolhê-la

Abstract: Based on the theoretical-methodological device of materialist Discourse Analysis, this researching work aims to understand the discursive process about difference through the way a woman's body is looked at and whose significance falls on a soap opera character. To do so, I take as an...

Abstract: Based on the theoretical-methodological device of materialist Discourse Analysis, this researching work aims to understand the discursive process about difference through the way a woman's body is looked at and whose significance falls on a soap opera character. To do so, I take as an analysis object the discourse of the soap opera Viver a Vida, written by Manoel Carlos, produced and broadcast by Globo television network between 2009 and 2010. I focus specifically on the trajectory of the character Luciana, portrayed by the actress Alinne Moraes. The discursive construction of this character and her trajectory in the plot constitutes a process of signification of difference. At first, Luciana is presented as a young, beautiful woman whose biggest dream is to achieve success in a modeling career. However, an automobile accident changes the character's life after receiving the diagnosis of quadriplegia, because of a neck injury. Facing the body, together with Hashiguti (2008), in its significant material thickness and the look, as an interpretive gesture, I explain the discursive process of the soap opera always in relation to the way Luciana's body is shown on the screen and meaning by the other characters. The difference in the discursive looks at her body, after the accident that results in the loss of movements, allows to make explicit a discourse on the difference that is established in the soap opera. Considering the media in its place of power, I take the soap opera as a symbolic object that produces meanings (ORLANDI, 2003) and regularizes a possible version (MEDEIROS, 2014). Then, I ask: What version is built for the woman with a different body from the way the character is constructed and signified? What meanings are attributed to the character's body before and after the accident? Is it possible to glimpse in this movement the updating of the meanings of Disability that were constituted in history? Luciana's trajectory also allows us to observe how the wheelchair interferes in the process of signification of the body and, consequently, of the subject himself, and how the overcoming effect is built and means a subject who has a trace of difference in the body. Such discourse is constituted by what is shown and by what is erased. For the said and the unsaid. A discursive process that is based on the functioning of Memory, on the confrontation of the symbolic with the political, and on Metaphor. A movement that opens a discussion for social inclusion, so talked about in our conjuncture, in addition to exposing the maintenance of the meanings attributed to subjects who were historically silenced and whose bodies were erased. The character Luciana, therefore, embodies a discourse produced in a conjuncture that cannot bear to look at difference from the moment it needs to welcome it

Requisitos do sistema: Software para leitura de arquivo em PDF